CRIAÇÃO DO LONGA METRAGEM

Um dos maiores desafios de fazer um longa-metragem a partir do material encontrado no Acervo Carbonari é sem dúvida o de organizar e selecionar esse conteúdo gigantesco e variado, que equivale a quase 600 longas-metragens de noventa minutos. Para organizá-lo, foi criada uma simbologia gráfica que nos ajuda a identificar tecnicamente o material. Isso se soma à simbologia de identificação do conteúdo. Ao final do processo, uma cena de cada filme selecionado é fotografada, para compor um roteiro visual de montagem.

É possível, por exemplo, estruturar a narrativa partindo da articulação de temas, e assim refletir sobre a representação do país no cinejornal. Mas é também possível abordar formalmente o material, e com isso articular as imagens de três maneiras distintas: estrutural, isto é, utilizá-las por seu significado primário, documental; estética, com as imagens destituídas do significado original, utilizadas apenas como força narrativa (o que ajuda a levantar as contradições do material); e sensorial, utilizando-as simplesmente como interferência de montagem, deturpadas, aproveitadas de maneira gráfica, podendo ser inclusive reenquadradas. Para que isso ocorra com sucesso, é preciso que o montador mantenha diálogo constante com os editores e com o artista gráfico. A grande força do filme virá da articulação livre dessas seqüências, e das possibilidades críticas que a montagem pode imprimir a elas.

O filme iniciará utilizando material filmado por terceiros, a partir de 1901, nitratos em sua maioria, e seguirá certa cronologia. Até que, por volta dos anos 1950, quando Carbonari começa a filmar, colocaremos um cinejornal completo (com os efeitos óticos, as cartelas, a locução, etc.). Isto é, apresentaremos um documento, sinalizando dessa forma que é a partir deste universo visual e sonoro que trabalhamos. Após a palavra “Fim” do cine-jornal, entrarão os nossos créditos iniciais.

Em seguida, a montagem tratará o material com maior liberdade, sem se prender a uma seqüência cronológica, trabalhando, no entanto, os filões temáticos presentes no material, como quem diz: assim vivia esta sociedade brasileira, esses eram os seus rituais, assim eram os políticos desde 1901, assim eles dançavam em boates ao som do jazz, assim eles ampliavam suas fábricas e aumentavam o trânsito de automóveis nas suas ruas, etc.

Esse fluxo será, de tempo em tempo, interrompido para abordar eventos específicos (como o IVº Centenário da cidade de São Paulo), e para desenvolver pequenas linhas narrativas paralelas.

Um dos desafios do filme, em seu aspecto dramatúrgico, é lidar com as reações contraditórias despertadas pelo material de Carbonari. Por um lado, há uma relação afetiva com essas imagens antigas e com a crônica de uma elite que se acreditava elegante e cosmopolita, mas que hoje vemos provinciana e fechada sobre si mesma. Por outro lado, queremos nos distanciar da visão condescendente que o retratista elaborou dessa elite, e construir um ponto de vista atual, enfocando os fatos notáveis ocorridos na vida do povo brasileiro, motivo pelo qual nos afastamos da crônica e da antologia, para trabalhar a remontagem dessas imagens utilizando todo um sistema de intervenções visuais e sonoras.

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