PORTAL BRASILEIRO DE CINEMA / HORROR NO CINEMA BRASILEIRO HOME    ENSAIOS    FILMES    EXTRAS    CONTATO

EXCITAÇÃO
1977, SP. Cor. 87 min. Direção: Jean Garrett

Excitação, dirigido por Jean Garrett, com roteiro deste e de Ody Fraga e fotografia de Carlos Reichenbach, mescla características do thriller psicológico, da ficção científica e do horror. Renato (Flávio Galvão) é um engenheiro eletrônico que quer se livrar da mulher, Helena (Kate Hansen). Ele pretende ficar com Arlete, sua amante e viúva de Paulo, seu ex-sócio numa empresa de computação. Para enlouquecer Helena, Renato conta com um computador que liga, desliga e movimenta os eletrodomésticos de casa.

A imagem de uma mulher atacada por eletrodomésticos que ganham vida é familiar à ficção científica, como em A geração de Proteus (Demon Seed, EUA, 1977), dirigido por Donald Cammell, no qual um supercomputador assume o comando de uma casa informatizada. Outra referência ao imaginário da ficção científica é a ocupação do próprio Renato, engenheiro aficionado por cibernética, uma derivação do tradicional cientista frio, calculista e diabólico. Segundo Renato, “a eletrônica hoje pode tudo, o bem e o mal”, inclusive se passar por mágica, o que faz lembrar Arthur C. Clarke, para quem a tecnologia avançada pareceria mágica ao espectador desavisado.

Materialista convicto, o vilão não contava que o sobrenatural interviesse e sua mulher Helena acabasse servindo ao plano de vingança do espírito de Paulo. O filme oscila entre o fantástico, o policial e a ficção científica, comportando características dos três gêneros: a alma penada, o crime perfeito e a parafernália cibernética.

O final, no entanto, reforça a proeminência do fantástico ou de um horror de inspiração expressionista, com alucinações e objetos que ganham vida, antecipando o Poltergeist (1982), de Tobe Hooper. Este horror tecnológico evoluiria, posteriormente, para o cinema de David Cronenberg (Videodrome, 1982), Shinya Tsukamoto (Tetsuo, 1989) e Hideo Nakata (Ringu, 1998).

A câmera de Reichenbach, por vezes instável e claustrofóbica, enquadra personagens através de janelas e escotilhas, contribuindo decisivamente para o clima de alucinação e suspense. Curioso notar como a trilha de tensão assemelha-se ao ruído do aparelho de rastreamento da série Alien, iniciada em 1979. Excitação também transpira uma certa moralidade católica ou espiritualista, e nisso antecipa outro suspense sobrenatural, What Lies Beneath (EUA, 2000), de Robert Zemeckis, em que também o marido peca e acaba punido, mas é sua mulher quem sofre.

Alfredo Suppia



© 2012 HECO PRODUÇÕES
Todos os direitos reservados.

pratza