Apresentação

 

Em 2002, comecei a mergulhar na estruturação do projeto de recuperação, catalogação e visualização do acervo do documentarista Primo Carbonari, do qual resultaria o meu primeiro longa-metragem, um filme de montagem. Em 2004, com o artista plástico Ricardo Carioba, fiz um curta a partir de oito rolos de filme desse acervo, composto de mais de 8 mil. A idéia era mostrar a importância desse material e descobrir uma forma de reordená-lo. Depois de mais de 115 horas de montagem, chegamos ao resultado final: um curta de doze minutos, que se tornou o trailer de apresentação do projeto. Foi então que me dei conta da árdua tarefa que teria pela frente se quisesse montar um longa-metragem longe de opções estéticas óbvias.

A experiência me fez aprofundar a reflexão sobre o desafio enfrentado pelos montadores, especialmente no precário quadro da produção brasileira. A mostra A Montagem no Cinema foi decorrência desse processo. Homenagear montadores do cinema brasileiro é uma forma de refletir mais atentamente sobre a importância dessa função, à qual cabe, efetivamente, o papel de concluir o filme — muitas vezes à revelia da idéia original prevista no roteiro. É também uma oportunidade de compreender melhor a importância da montagem, desenvolver os conceitos de estrutura, corte, ritmo e estética de um filme, ampliando assim a consciência crítica do fazer cinematográfico.

Da Vera Cruz ao cinema contemporâneo, passando pelo Cinema Novo, pelo Cinema Marginal e pelo Cinema Independente, a mostra A Montagem no Cinema apresenta filmes brasileiros, de ficção e não-ficção, montados por profissionais que se iniciaram no longa-metragem antes de 1990. Para enriquecer a discussão, também criamos um livro-catálogo, com ensaios, entrevistas e um levantamento inédito no país, 66 pequenas biografias dos maiores montadores do Brasil, trabalho que confiei a Ruy Gardnier.

Esta mostra, que surgiu durante os trabalhos do projeto Ampla Visão, contou com a colaboração fundamental do crítico e professor Arthur Autran, além das ricas conversas que mantive nos últimos cinco anos com o também crítico e professor Jean-Claude Bernardet, a quem dedico o projeto. É preciso ressaltar ainda a participação de Gustavo Ribeiro na idealização da mostra e a contribuição inestimável da equipe que me acompanha na Heco Produções e no projeto Ampla Visão. Ao Centro Cultural Banco do Brasil, meu agradecimento especial por mais essa oportunidade.

Viva os montadores!

Eugênio Puppo