Estados Unidos, 1998, cor, vídeo, 47 min
O desenrolar do dialogo, em voz over, dos dois diretores, associado a um conjunto heterogêneo de imagens e sons das mais diversas procedências, propõe uma desconcertante interpretação da encomenda feita pelo Museu de Arte Moderna de Nova York de um vídeo a respeito do lugar da arte no fim do século XX.
Além do questionamento sobre a situação da(s) arte(s) na passagem do século, The old place abre lugar para uma interrogação, de tonalidade elegíaca, sobre o estatuto da arte e, de modo mais amplo, da imagem no mundo – sem utopias – contemporâneo.
Essa interrogação se desenvolve por meio do que a dupla de diretores denomina, no curso do vídeo, de “exercícios de pensamento artístico”. Ou seja, por meio da justaposição dinâmica das matérias de expressão e da progressão, sinuosa e enigmática, destas justaposições, que se encontram na base da composição poética das figuras de pensamento que a obra propõe. Instigantes relações são estabelecidas – de modo sempre diferenciado – entre reproduções fotográficas de pinturas e esculturas, trechos de filmes documentários e de ficção, noticiários televisivos, trechos de obras musicais, sons da natureza, de ambientes urbanos ou domésticos, palavras escritas diretamente na tela e aquelas enunciadas, de modo contido e sutil, pelas vozes de Anne Marie Miéville e Jean-Luc Godard.
Destaca-se, neste âmbito, a função interrogativa das vozes em dialogo frente às imagens a elas associadas, o uso recorrente de reproduções fotográficas de máscaras e de rostos esculpidos na pedra, das mais diversas origens, no movimento da alternância entre sequências de imagens. E mais do que em qualquer outra obra anterior da dupla ou de Godard, é notável, neste tocante vídeo-ensaio, o papel central desempenhado pelas sobreimpressões entre imagens sucessivas na ordenação da passagem, em cadeia, das representações visuais na tela.
A discussão proposta é historicamente situada no quadro geral de evolução das nossas sociedades. É inicialmente questionada a espetacularização visual dos massacres envolvendo múltiplas comunidades humanas no final do século passado. É, por exemplo, problematizada a tentativa de conferir aura artística à documentação fotográfica de ocorrências bárbaras do final dos anos 1990, tal como o genocídio étnico na Bósnia. Uma curta sequência evoca, de modo extremamente elíptico, o fracasso das utopias revolucionárias do século.
Além da afirmação, subliminar, da necessidade de uma moral estética na lida com a representação de acontecimentos da história contemporânea, The old place aponta para a importância de uma abertura do olhar ao entorno visual, aparentemente banal, de instantes quaisquer do cotidiano que não sabemos ver.
Na sequência “A infância da arte”, que constitui o discurso do método central deste vídeo-ensaio, afirma-se que o pensamento artístico se inicia com a “invenção de um mundo possível”. A invenção desse mundo, no caso da obra em questão, exige uma abertura para esse visível não visto na textura mais íntima do cotidiano, na trágica história das massas e na melancólica trajetória da imagem no século XX, fadada, no apagar do século, a servir de suporte a mensagens publicitárias. Contrariamente, na sequência citada, que dialoga com o ultimo episódio de Histoire(s) du cinema(1988-1998), intitulado, “Os signos entre nós”, é exaltada a fecundidade heurística da arte da montagem, a sua capacidade de aproximação de representações visuais que remetem a realidades humanas e históricas heterogêneas, entre as quais algum tipo de parentesco visual, entretanto, é suscetível de ser estabelecido.
Parafraseando o que dizia em 1918 o poeta francês Pierre Reverdy, próximo dos pintores cubistas: “quanto mais distantes e justas forem as ligações das duas realidades, mais a imagem será forte – mais ela terá poder emotivo e realidade poética”. Assim concebida, pura criação do espirito, a imagem é forte não porque seja brutal ou fantástica, mas porque a associação das ideias é longínqua e justa.
Henri Arraes Gervaiseau
Produção
Apoio
Correalização
Copatrocínio
Realização
Sugestão de Hotel em São Paulo, VEJA AQUI. Agradecimentos ao Ibis Hotels.
É expressamente proibida a utilização comercial ou não das imagens aqui disponibilizadas sem a autorização dos detentores de direito de imagem, sob as penalidades da lei. Essas imagens são provenientes do livro-catálogo "Godard inteiro ou o mundo em pedaços" e tem como detentoras s seguintes produtoras/ distribuidoras/ instituições: La Cinémathèque Francaise, Films de la Pléiade, Gaumont, Imovision, Latinstock, Marithé + Francois Girbaud, Magnum, Peripheria, Scala e Tamasa. A organização da mostra lamenta profundamente se, apesar de nossos esforços, porventura houver omissões à listagem anterior.
Comprometemo-nos a repara tais incidentes.
© 2015 HECO PRODUÇÕES
Todos os direitos reservados.