Portal Brasileiro de Cinema  FILMES PORNOGRÁFICOS

FILMES PORNOGRÁFICOS

A 5a DIMENSÃO DO SEXO
Ficção, 1984, 35 mm, cor, 91 min, longa-metragem

24 HORAS DE SEXO EXPLÍCITO
Ficção, 1985, 35 mm, cor, 77 min, longa-metragem

48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE
Ficção, 1986-87, 35 mm, cor, 99 min, longa-metragem

 
 

Mojica pornô. O que herdamos disso? Inacessíveis (ou quase) os filmes, o que ficou para a posteridade foi o hilário e subversivo depoimento do diretor contando que fez 24 horas de sexo explícito com mulheres feias e cenas de zoofilia para que o sujeito saísse da sala de cinema e não quisesse nunca mais fazer sexo na vida. A história é boa, e de fato há na produção pornô de Mojica Marins alguns elementos subversivos, mas nada que nos filmes confirme um gesto dessa grandeza. Em todo caso, vale ver os filmes pelo que eles são: filmes de sexo explícito num momento em que quase todo o mercado do cinema comercial brasileiro estava voltado para esse nicho (e até os filmes de autor tinham sua parte de carne nua na tela). Filmes feitos numa época em que, em termos financeiros, seria burrice para um produtor popular não se arriscar no ramo.

Para início de conversa, é preciso deixar bem claro que A 5ª dimensão do sexo, 24 horas de sexo explícito e 48 horas de sexo alucinante não se inscrevem muito bem naquilo que a categoria “filme pornô” representa hoje. São filmes que se apresentam muito mais como comédias eróticas com sexo explícito. A primeira coisa a se notar é que neles o sexo nunca aparece eroticamente, com a construção de climas românticos, e tampouco como atividade saudável e prazerosa em si. Os planos de penetração chegam a ser até um pouco desconectados das cenas, sem qualquer esforço de decupagem para incorporálos mais integralmente à seqüência. Resultado: as cenas de carnes batendo uma contra a outra não cumprem função nem de erotismo – como os soft porn da época, dos quais Emmanuelle (1974) é o exemplo mais conhecido – nem de excitação sexual – como os pornôs com Brigitte Lahaie ou as divas americanas do período –, mas de curiosidade exótica, de uma “atração”, da maneira como falamos em atrações de feira ou de circo. Então, num certo sentido, devemos conceder alguma razão à fala de Mojica: seus filmes de sexo não têm muita coisa de sexual.

Além disso, é extremamente curioso como nesses três filmes o sexo é vivido como fantasma, obsessão, delírio da plena potência. E é impressionante como esse delírio convive com seu avesso: a impotência, o risco de “não ser homem”. Há grande homofobia em 24 horas de sexo explícito, com as piadinhas sobre o juiz gay. Há traumas que impedem o membro masculino de “funcionar” em A 5ª dimensão do sexo; frigidez e perversão em 48 horas de sexo alucinante e bestialismo tanto em 24 horas... como em 48 horas... É o sexo vivido como mondo cane, com ou sem trocadilho, como exercício autofágico sem qualquer fascinação.

Daí o humor que irrompe, impressionantemente agressivo, a pontuar os delírios de masculinidade dos personagens: a dupla de amigos garanhões que se descobre um casal gay, em A 5ª dimensão..., e o sexo vivido até a exaustão e a brochada nos dois filmes de maratona sexual (em 48 horas..., as mulheres chegam a zombar do homem que abandona a competição no meio).

Se o sexo é algo natural, a obsessão por sexo é mais um delírio a assombrar o homem, e com esse tipo de coisa Mojica Marins adora brincar. Dessa forma, os filmes de sexo explícito do criador do Zé do Caixão combinam muito bem com o resto de sua obra.

Ruy Gardnier