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O DIABO DE VILA VELHA

Ficção, 1964-65, 35 mm, cor, 90 min, longa-metragem

 
 
 

Um pistoleiro misterioso chega a um vilarejo e se junta à gangue do Diabo, que domina o lugar. É época de eleição, e o bando intimida a resistência da oposição e do padre local. A população, no entanto, está ansiosa por mudanças políticas e, auxiliada pela polícia, tenta combater o vilão.

Clássico na forma, O diabo de Vila Velha inicia, como vários westerns, com a chegada de um misterioso pistoleiro – Lorenzo – a um vilarejo. Logo o forasteiro é cooptado para o grupo do chefe local, Amaro, conhecido como “o perverso Diabo”. Esse personagem é o poderoso dono de uma mina, na qual escraviza seus empregados.

O candidato do Diabo a prefeito do lugar é Fagundes – José Mojica Marins –, que enfrenta pela primeira vez um movimento de oposição. O golpismo dá o tom político e aparece em uma conversa entre o padre e o prefeito da cidade: “Em caso de eleições, o povo é quem manda. Espero que respeitem os direitos do povo, porque, senão, para que eleições?”. A trama do filme se desenrola mediante os esforços para manutenção – e renovação – do poder. A divisão está também no nome dado à localidade: para o Diabo e sua gangue é Vila Velha, e, para os renovadores, Vila Esperança. Lorenzo – em uma boa interpretação de Milton Ribeiro – torna-se o pistoleiro-mor do Diabo. As diversos assassinatos que promove geram uma rede de vinganças em série, que só aumenta durante o filme. A vingança também torna-se a fonte de motivação para a bela filha do candidato oposicionista e para um capitão da polícia, que se unem contra os vilões.

 

Produção tumultuada, coordenada por Nelson Teixeira Mendes, o filme iniciou sob a direção de Ody Fraga, que filmou alguns interiores no Teatro Guaíra, em Curitiba. Com os sucessivos atrasos de filmagem, Mendes tranferiu a direção para Mojica que, com Eliseu Fernandes na fotografia, realizou as belas cenas externas, as quais concentram a verdadeira força da aventura.

No filme, rodado inteiramente no Paraná, Mojica aproveitou muito bem a paisagem local – como a amplidão do planalto de Vila Velha e suas exóticas formações rochosas, que nos re metem às famosas cenas de faroestes de John Ford em Monument Valley. Também são utilizadas as Cataratas do Iguaçu e as casas típicas do interior do Estado.

A ágil montagem de Luiz Elias atenua a gravidade das confusões do roteiro e da produção, o que rende alguns bons momentos de ação, como na cena de confronto entre a polícia e as forças do Diabo, que observa tudo do alto de uma rocha.

Mojica utiliza também como recurso narrativo – do qual lançaria mão novamente em O estranho mundo de Zé do Caixão: a música que escreveu para reforçar a situação dos personagens e a tensão local. Ela é interpretada por Edson Lopes e um coral, pontuando momentos-chave do filme: “Vila Velha é do Diabo/pedaço de terra que Deus esqueceu/ sem dar proteção/ Que o sangue vai correr/ com o fim de muitas vidas”.

Se no papel do prefeito José Mojica deixa escapar alguns trejeitos próprios de Zé do Caixão, na direção demonstra afinidade com o gênero faroeste, que já havia exercitado em A sina do aventureiro e ao qual voltaria em D’Gajão mata para vingar.

Alessandro Gamo