Portal Brasileiro de Cinema  FILMES DE JAIRO FERREIRA

FILMES DE JAIRO FERREIRA

O VAMPIRO DA CINEMATECA
Não-ficção, 1977, Super-8, cor, 64 min, média-metragem, Dirigido por Jairo Ferreira

HORROR PALACE HOTEL
Não-ficção, 1978, Super-8, cor, 40 min, média-metragem, Dirigido por Jairo Ferreira

 
 

Ambos os filmes, O vampiro da cinemateca e Horror Palace Hotel, realizados por Jairo Ferreira, contextualizam José Mojica Marins dentro das experiências do cinema brasileiro da Boca do Lixo, na década de 70, em meio às ruas da Liberdade em São Paulo e durante o Festival de Brasília.

Final da década de 70: era pré-vídeo, o Super-8 em seu auge criativo – diferentes texturas, a agilidade e a ousadia que esse suporte sugere. O vampiro da cinemateca e Horror Palace Hotel são documentários, cinediários que registram em imagens estilhaçadas, muito escuras ou estouradas, a paixão pelo cinema brasileiro e por José Mojica Marins.

No primeiro, Jairo Ferreira nomeia filmes e eventos culturais por meio de sua vivência da rua, do cinema marginal e da Boca do Lixo. No segundo, sua câmera, com Rogério Sganzerla como repórter, trafega pelos quartos e pela piscina do hotel do Festival de Cinema de Brasília, repleto de cineastas marginais: Eliseu Visconti, Ivan Cardoso, Julio Bressane e o grande crítico Almeida Salles. Jairo e Sganzerla diagnosticam que a mostra de filmes de horror, apresentada pelo Festival como mostra paralela, deve ser a principal. Apontam para o grande gênio do cinema de horror. “Gênio nato?”, pergunta Sganzerla a Mojica. “Nato pode ser; o gênio está em extinção”, confirma o mestre do horror. O vampiro é Jairo, é Zé do Caixão, nomeado por intermédio de trechos de À meia-noite levarei sua alma, e a cinemateca é inventada, um mix tropicalista de filmes de gênero e experimentais, em que Mojica, em meio a cenas de Orson Welles, Julio Bressane, Eizo Sugawa, Samuel Fuller, Leni Riefenstahl, é rei.

 

O ato de filmar, de apropriar-se de imagens e situações artísticas, é equiparado ao ato de sugar do vampiro, e o Super-8 é visto como instrumento de apropriação: “Só me interessa o que não é meu”, diz Jairo, e explicita a fonte: “Manifesto antropófago, Oswald de Andrade”.

Em Horror Palace Hotel a alusão a Oswald é atualizada no filho deste, Rudá de Andrade, que comenta sobre dois grandes rompimentos com o pai da antropofagia. E é Mojica o canibal genuíno, aquele que traz a antropofagia literal, presente em O estranho mundo de Zé do Caixão e em seu fazer fílmico.

Em homenagem explícita, O vampiro termina com a palavra “fim” retirada de À meianoite levarei sua alma. No primeiro plano de Horror Palace Hotel, as letras da palavra “horror” escorrem sangrentas sobre as imagens do Festival de Cinema de Brasília – ou sobre o todo o cinema nacional.

Guiomar Ramos