Portal Brasileiro de Cinema  A VIRGEM E O MACHÃO

A VIRGEM E O MACHÃO

Ficção, 1973-74, 35 mm, cor, 90 min, longa-metragem

 

Dois médicos são chamados para trabalhar no hospital de uma cidade do interior. Um deles começa a cativar todas as moças da região. Quando as mulheres da cidade descobrem uma aposta sexual feita entre seus maridos e o forasteiro, decidem revidar e chamam o machão para um feriado numa casa de campo.

Não há muita coisa que destaque A virgem e o machão das rotineiras comédias eróticas produzidas no Brasil ao longo da década de 70, pejorativamente intituladas pornochanchadas. O gênero foi alvo fácil de moralistas e puristas de plantão, mas, nas mãos de alguns cineastas talentosos e anárquicos, conseguiu fascinantes resultados artísticos (o mais significativo destes cineastas é, sem dúvida, Carlos Reichenbach). José Mojica Marins, no entanto, não foi exatamente feliz no gênero. Mesmo seus filmes de sexo explícito envolvem situações absurdas e invenções visuais tresloucadas.

Em A virgem e o machão temos apenas um pouco de humor, geralmente conduzido pelas falas, e situações corriqueiras de tensão e intriga sexual pra lá de recorrentes nos filmes do período.

A narrativa é sumária: dois jovens médicos são contratados para trabalhar numa cidade de interior. Desde o início um deles aparece como garanhão, aproveitando qualquer oportunidade para traçar as mocinhas que encontra. Na festa oferecida para apresentar os jovens médicos à sociedade, começa um jogo de olhares que impulsiona o desejo das mulheres no recinto. Simultaneamente, os homens conversam num grupinho e decidem lançar uma aposta para saber quem consegue seduzir a melhor prostituta da região.

As esposas descobrem o plano e decidem se vingar, organizando um passeio em que o doutor-garanhão será o alvo de todas elas. Junto com as esposas vai uma solteira, reputada como a virgem da região. Naturalmente, como manda o figurino, o machão se deitará com todas, e de quebra fará a mocinha solteira apaixonar-se perdidamente. Recalcada pela recusa do machão em estabelecer um relacionamento com ela, a virgem arma uma vingança contra ele.

Como é típico dos filmes dessa fatura, A virgem e o machão é mais uma reunião de cenas picantes arranjadas por meio de um fio narrativo tênue que, como uma peneira, serve para deixar passar o máximo de coisas interessantes aos fãs do gênero. No caso, as coisas interessantes são o humor e as cenas de nudez feminina. As piadas são características da época e do gênero, quase todas relacionadas a performance sexual, adultério, respeito à tradição e hipocrisia.

Não há nada no filme que, nem de leve, beire o subversivo, mas, sendo uma obra de José Mojica Marins, pode-se vislumbrar hora ou outra um olhar que zomba pronunciadamente dos valores instituídos. Também aparece a tentativa em certos momentos de fugir do esquema machista que domina o imaginário da pornochanchada (o que só acontece em algumas passagens, afinal o machão permanece como machão).

Definitivamente, a coisa mais interessante do filme é a inusitada história da bela prostituta que toma picolé enquanto realiza o ato sexual com seus clientes (e, de quebra, deixa o sorveteiro rico). Por si só, ela é responsável por imagens hilárias, tanto de cama como de fila (todos os homens com picolé na mão enquanto esperam sua vez). Pode não salvar o filme, mas com certeza dá a ele um charme todo próprio.

Ruy Gardnier