Apresentação

Quando Leila Diniz morreu estávamos nascendo. Crescemos tendo no nosso imaginário a imagem da mulher grávida, de biquíni, barriga de fora, tomando sol na praia. E também cresceu nossa paixão pelo cinema. Ao idealizarmos uma mostra retrospectiva de seus filmes, nos deparamos com a necessidade de adentrar nos anos 60 e 70 e traçar um panorama do contexto social, político e cultural do Rio de Janeiro na época; afinal, eram assuntos que, além do cinema, também nos fascinavam. Assim, com o apoio de Janaina, filha de Leila Diniz, partimos para a viabilização do projeto.

A Mostra Leila Diniz traduz o que é o mito Leila Diniz, pela exibição dos filmes em que ela atuou e dos filmes e vídeos produzidos sobre ela; e também pela publicação do livro, que, além de textos críticos e reflexivos, reúne um vasto material iconográfico, em grande parte inédito. Toda a pesquisa foi feita no Rio de Janeiro, onde os depoimentos saudavam aquela Ipanema dos anos 60, das areias e do mar que Leila tanto adorava. Queríamos compreender quem ela foi, o que representou e porque o mito permanece trinta anos depois de sua morte; então buscamos Leila no cinema, nos amigos, namorados, familiares e também nela mesma, nos textos que deixou.

À medida que pesquisávamos, reuníamos a iconografia e gravávamos as entrevistas, tivemos de redimensionar o projeto, pois as imagens e os colaboradores se multiplicavam, ultrapassando, felizmente, as nossas expectativas. Partimos de sua filmografia para entender a mulher e o mito, mas no decorrer do trabalho o que mais chamava a atenção não estava relacionado ao desempenho de Leila no cinema, mas a sua atitude transgressora na época da ditadura, quando não havia qualquer liberdade de expressão. Ela foi um símbolo de liberdade, traduziu com seu comportamento aquilo que as mulheres tanto desejavam.

Muito já se falou sobre Leila Diniz e ainda há muito o que falar, muito a conhecer desta personagem que continua instigante. Leila não esgota o assunto. Mostra e livro, portanto, são uma homenagem; as imagens e os textos mostram Leila sob vários olhares, a partir das preciosas lembranças guardadas na memória dos que a conheceram, trabalharam e conviveram com ela. Nós, idealizadores do projeto e parte de uma geração que só conheceu o mito, passamos a conhecer Leila, uma mulher que viveu fiel a sua verdade e aos seus sentimentos, entregando-se visceralmente a eles com a convicção e a alegria que sempre marcaram sua vida.

Eugênio Puppo e Daniel Brandão