Eduardo Prado

 

“Ela não dizia apenas o que as mulheres pensavam e não ousavam dizer. Leila dizia o que elas não ousavam pensar.”

Nunca conheci alguém que tenha convivido tão bem com o sucesso como Leila Diniz. Ao longo de toda a sua carreira, jamais cedeu à fome do público pelos mitos, mantendo-se sempre muito próxima à sua essência de menina travessa e com ambições bem simples. Parecia saber exatamente o que queria da vida e a fama não fazia parte de seus projetos. Era simples em sua celebridade e extraordinária em sua simplicidade. Fomos amigos por quase dez anos. Às vezes distanciados pelo trabalho, às vezes muito próximos e confidentes. Sobretudo num período em que ela e seu marido, o Mingão, me abrigaram na pequena cobertura em que viviam no bairro Peixoto.

Com seu precioso dom de rir de si mesma, Leila transformava suas carências e amarguras em hilariantes verdades humanas. Ela não dizia apenas o que as mulheres pensavam e não ousavam dizer. Leila dizia o que elas não ousavam pensar. De que fonte ela tirava, tão jovem, a iluminação de suas frases contundentes, é um mistério. Suas idéias não brotavam de longas e cabeludas reflexões. Eram apenas o resultado de sua capacidade de expressar o que sentia, sem medo de se contradizer. Deixava o inconsciente fluir e o ordenava em frases claras, como uma exímia domadora de palavras. Nada inibia sua espontaneidade. Não permitiu que a plena ditadura atropelasse seu pensamento e continuava afirmando o que sua liberdade exigia. Por isso foi muito feliz e por isso também sofreu, muitas vezes sem nenhum anteparo.

Leila era intensa e verdadeira, o que favoreceu sua fama de "libertária". Essa liberdade, no entanto, deve ser entendida sem os vícios do nosso pensamento. Ao afirmar, por exemplo, que uma mulher pode amar um homem e ir para a cama com outro, a primeira idéia que ocorre aos espíritos mais desprevenidos é a da infidelidade. Mas, contrariando a regra, Leila era absolutamente fiel aos seus homens. O que ela aceitava plenamente e proclamava sem hipocrisia era que nem sempre o amor caminha junto com o sexo. Assim como um católico que peca e se confessa, peca e se confessa. Por que esse ciclo vicioso nunca termina? A resposta é bem simples: quem peca é um e quem confessa é outro. Hoje Leila teria 57 anos, o que a torna inimaginável. Só nos resta portanto continuar convivendo com sua eterna juventude.