ISMAEL NERY

1979 . Sérgio Santeiro
Rio de Janeiro, 7 minutos, 35mm, cor

 
 

Nascido em 1900, Ismael Nery morreu em 1934, depois de padecer por quatro anos de tuberculose. Era filósofo, poeta e, principalmente, pintor. Flertou com o expressionismo e abraçou, via Chagall, uma estética proto-surrealista, pintando inicialmente mulheres e depois o sofrimento do corpo. Esquecido por trinta anos, sua obra só passou a ser valorizada em meados dos anos 60.

O filme entra em contato direto com o artista, sem dados biográficos ou informações que situem a obra. Travellings verticais, para cima e para baixo, e alguns zooms (in & out) são usados para mostrar a arte de Nery ao espectador. Na banda sonora, o próprio Santeiro declama o “Poema pós-essencialista”, de 1931. O que separa Santeiro de Nery? Santeiro é um artista do aqui-e-agora, e por isso cria outros planos que dialoguem com as telas de Nery: uma câmera intencionalmente tremida capta aspectos fugidios da grande cidade, do Centro do Rio, com seus transeuntes, carros e paisagens. E, nas paredes, ditames: “não ao imperialismo”, “ianques go home”, “um governo dos trabalhadores”, “a hora do povo”. Ao idealismo e à pesquisa subjetiva de Nery, Santeiro responde com um apelo artístico à realidade política.

O que aproxima Santeiro de Nery? O gesto utópico do artista, a voz tentando alcançar o absoluto através de uma atitude especulativa, a força da expressão superando o comedido bom senso cotidiano.

Ruy Gardnier

Produção: UNA, Sérgio Santeiro e Funarte

Direção: Sérgio Santeiro

Roteiro: (não creditado)

Fotografia: Roberto Maia

Montagem: Gilberto Santeiro