Portal Brasileiro de Cinema  CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL

CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL

1976 . Luiz Rosemberg Filho
Rio de Janeiro, 100 minutos, 35mm, cor

 
 

Enquanto os sabidos armavam, mais uma vez, a jogada industrial, no cinema e fora dele, aparecia Luiz Rosemberg com esta bela crônica, desprezando o “comércio” descartável e realizando um cinema de permanência. Crônica de um industrial fala do Brasil para pensar o cinema — ou pensa o cinema para falar do Brasil? Não por acaso, a fita enfrentou, assim como A$$untina das Amérikas, a cisma da censura oficial: “num mundo de ilusórias aberturas para a realização...”, diria Rosemberg. Já foi dito que progresso técnico e conteúdo social reacionário freqüentemente andam juntos, e não é de outra coisa que a fita parece nos falar: raras, aliás, são as vezes em que a experiência estética tornou-se dado político como nas imagens de Crônica. Se há no filme uma mise-en-scène ritualística — como em Buñuel —, o solene é detrito eufórico, decadência do arrivismo, dos que não souberam se apegar senão ao que há de mais irrisório. Numa primeira visão, seria o ocaso financeiro de um rico empresário. Porém, mais do que a frustração e o fracasso de sua ascensão social, o filme é a revelação da falência do mito milagreiro-desenvolvimentista dos anos 70, pois essa crise é sobretudo privada, sentimental, ideológica: o vazio é “ausência total — não de comunicação, mas de sentido para a existência” , situou Rosemberg. A se notar também — outro dado crucial — como os corpos mecanizados e a ausência do prazer são filmados: a nudez como vã ilusão de tentar se desfazer das mentiras, dos falsos mitos que a sociedade constrói. Gimenez, o industrial, vale dizer, é tão mais político por ser um trágico frustrado. Crônica, enfim, é o retrato de um país doente, à beira do suicídio (cultural).

Juliano Tosi

 

 

Cia. produtora: Bang Bang Filmes

Produção, direção e roteiro: Luiz Rosemberg Filho

Fotografia: Antonio Luiz Soares

Montagem: Ricardo Miranda

Elenco: Renato Coutinho, Ana Maria Miranda,Eduardo Machado, Kátia Grimberg, Adriana de Figueiredo, Wilson Grey