DEZESPERATO

1968 . Sérgio Bernardes Filho
Rio de Janeiro, 85 minutos, 35mm, p&b

 
 
 

Um letreiro nos informa: estamos em 1968, provavelmente logo antes do “golpe dentro do golpe”, que seria o AI-5. Nesse mundo, vive o escritor Antônio, recluso em sua bela casa e em seu enlace matrimonial com uma mulher bem mais nova que ele, de nome Marisa. Antônio termina de escrever um livro diferente dos que costumava: o tema de seu novo trabalho é o patriotismo e o grande herói da narrativa é Severino, líder popular que dá o sangue à pátria por ideais de liberdade. Apesar de ficar obcecado pela idéia de revolução de seu personagem, Antônio vive em meio ao tédio burguês dos altos círculos, para onde é levado pela esposa. O grande tema do filme, vamos percebendo aos poucos, é a alienação do intelectual de classe alta diante de um mundo em estado de ebulição (vemos cenas reais das passeatas de estudantes em 1968), do qual ele efetivamente não faz parte. Com lentos travellings para os lados e para a frente, Sérgio Bernardes filma o impasse do intelectual diante do mundo: no filme, o dilema do escritor entre o subjetivo e a militância se passa através da vida com a esposa, pintada sempre como o relacionamento ideal, mas que não supre a urgência do momento. Num luxuoso coquetel, quando mais nada parece relevante, Antônio assassina um figurão militar, num ato mecânico e estilizado. Mas Dezesperato é menos um olhar crítico sobre a falência da burguesia do que um sintoma do isolamento do artista diante de uma sociedade mutante, que ele não compreende muito bem.

Ruy Gardnier

Cia. produtora: sw Bernardes Produções Cinematográficas

Produção e direção: Sérgio Bernardes

Roteiro: Sérgio Bernardes e Leopoldo Serran

Fotografia: Edson Santos

Montagem: Gilberto Bernardes Macêdo

Cenografia: Geraldo Andrada

Elenco: Mariza Urban, Ítalo Rossi, Norma Bengell, Raul Cortez, Ferreira Goulart, Fernando Campos, Nelson Xavier, Mário Lago