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AS SETE VAMPIRAS
1986, RJ. Cor/P&B. 90 min. Direção: Ivan Cardoso

Após a estreia em longas com O segredo da múmia, que promoveu a apropriação e popularização de um subgênero já existente, o terrir – terror para rir, ou comédia para assustar? – Ivan Cardoso retorna, depois de quatro anos, com As sete vampiras. O filme é uma história vertiginosa que congrega plantas carnívoras, assassino serial e vampirismo, com o desfile habitual de beldades nuas tão a gosto do diretor.

Porém, As sete vampiras não deu tão certo quanto O segredo da múmia, porque Ivan Cardoso resolveu colocar o escracho acima do referencial, e assim, quando o referencial aparece, está enfraquecido pelas camadas exageradas de desleixo estético disfarçado. Ora, o cinema do diretor é essencialmente referencial. Não faz sentido avacalhar tanto, a não ser que se consiga algo realmente bombástico. Não é o caso.

O que outros cineastas que se identificavam com o udigrúdi conseguiam – aquela anarquia que não deixava de ser cinema, uma liberdade invejável de estilo em contato com almas vivamente transgressoras – na obra do diretor de Nosferato no Brasil se encerra sob uma ótica que favorece muito mais a pornochanchada rala do que a crítica. Quando falo crítica, não falo da crítica propriamente dita, o ofício de escrever sobre filmes com “paixão e lucidez”, segundo Jean Douchet, mas tão somente da crítica enquanto cinema referencial, o eterno colocar em crise de procedimentos que se repetem e ameaçam paralisar a grande arte. O que os melhores cineastas ditos marginais faziam muito bem. Quando digo pornochanchada, penso naquela que se satisfaz em repetir comodamente as regras do gênero, sem choque ou ameaça de ruptura – o que às vezes é mais interessante do que a ruptura em si.

Em retrospecto, é como se O segredo da múmia fosse feito como crítica ao As sete vampiras. Mas no sentido cronológico do tempo, o segundo não funciona, de jeito nenhum, como antítese possível do primeiro. Por que isso acontece? Principalmente porque um dinamita o outro. Melhor dizendo, o que está realizado em O segredo da múmia praticamente anula As sete vampiras de saída, sobrando apenas, neste último, algumas piscadelas para o Cinema Marginal, para a pornochanchada, para diversos subgêneros do horror, e até para os Trapalhões, na presença curiosa de Dedé Santana. Há um equívoco de registro, uma falta de foco, uma carência de unidade que até permite que Ivan Cardoso exercite tanto o humor quanto o terror, mas não é consistente em nenhuma das vertentes. Um tiro no pé fácil de se ver, com momentos inspirados perdidos pelo miolo, mas ainda assim, um tiro no pé.

Sérgio Alpendre



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