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PECADO NA SACRISTIA
1975, RJ. Cor. 84 min. Direção: Miguel H. Borges

Quando Pecado na sacristia estreou (em 1975), o cinema brasileiro atravessava um de seus momentos favoráveis: o número de salas de exibição era quase o triplo do que é hoje, e ainda sobreviviam as da periferia, com seus ingressos mais baratos. As comédias eróticas dominavam o mercado, e os diretores Braz Chediak, Jean Garrett, Alberto Pieralisi, Ody Fraga e Sílvio de Abreu disputavam as maiores bilheterias com os veteranos Mazza ropi e J. B. Tanko (Os Trapalhões). Era um cinema vulgar, porém popular. Entre os campeões daquele ano, apenas Guerra conjugal, de Joaquim Pedro de Andrade, e O casal, de Daniel Filho, se dirigiam ao público mais sofisticado.

Miguel Borges surgiu no Cinema Novo em 1962, num dos episódios de Cinco vezes favela. Logo se afastou do movimento, preferindo abordar o submundo carioca em A canalha em crise, Perpétuo contra o esquadrão da morte, As escandalosas, O último malandro e O caso Cláudia. Alguns desses filmes foram sucesso de crítica ou de público. Borges não dirige desde 1980. Seu cinema pode ser voluntariamente cafajeste, mas sempre será antenado. Sim, porque MB é um autor, mesmo quando trabalha dentro do esquema comercial. E este filme, obra intelectual que corteja o popular, é uma excelente prova disso.

Pecado na sacristia é considerado pela maioria o seu melhor filme. Uma incursão às origens nordestinas, já que o cineasta nasceu no Piauí. Também uma volta às suas raízes cinematográficas, pois é o que ele fez de mais parecido com o Cinema Novo. Lá estão os planos-sequência, os planos gerais, a câmara na mão, a interpretação exacerbada, a ausência do plano/contraplano, as elipses e as alegorias.

“Faço questão de não assustar ninguém”, disse Miguel Borges na época. E não assusta mesmo, pois a trama é picaresca, próxima da literatura de cordel. Não é difícil para os bem informados detectar reflexos de O auto da compadecida (a peça de Ariano Suassuna) ou de Macunaíma (o filme de Joaquim Pedro de Andrade). Mas, no final, predomina a originalidade de um mundo fantástico, entre Ariano Suassuna e Glauber Rocha.

A contribuição de Pecado na sacristia para o sobrenatural no cinema brasileiro é a inclusão de entidades do folclore nacional, como a mula-sem-cabeça e a mãe-d’água, distantes da Transilvânia e da palidez dos personagens góticos importados. Uma possibilidade artística muito promissora, mas que, hoje, tantos anos depois, ainda permanece quase inexplorada. Infelizmente.

João Carlos Rodrigues



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