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O JOVEM TATARAVO
1936, RJ. P&B. 77 min. Direção: Luiz de Barros

Em um leilão, Eduardo compra uma “caixa de segredos” que teria supostamente pertencido a Estácio de Sá, e que conteria antigos pergaminhos dos tempos de Ramsés II descrevendo uma fórmula mágica com poder de reanimar os mortos. Empolgado, ele realiza uma sessão espírita em que aplica os ensinamentos para invocar seu tataravô, Vítor Eulálio, morto há mais de cem anos. Este surge na penumbra da sala, para horror de todos, em carne e osso.

Em O jovem tataravô (1936), produção da Cinédia dirigida por Luiz de Barros, identificamos facilmente vários elementos do filme de horror: o velho pergaminho com fórmulas mágicas, o incauto que vai liberar forças extraordinárias, a sessão espírita, a conjuração dos mortos e a interferência do oculto na vida cotidiana. Mas o filme é uma comédia musical que utiliza o sobrenatural como tema. Apesar de ser uma obra pouco lembrada, é interessante ver como os paradigmas do horror se integram aos números musicais e às situações cômicas sobre as quais se desenvolve a narrativa, ficando por isso diluídos e desprovidos de sua função primordial: causar medo ou repulsa.

Como era de se esperar, a intromissão do espírito encarnado no cotidiano da família de Eduardo vai trazer problemas, ainda que o morto redivivo se comporte mais como brincalhão e mulherengo, ao contrário de uma entidade maléfica e destrutiva típica de uma obra de horror. Mesmo assim, torna-se imperativo ao tataraneto – em inspirada interpretação do comediante Darcy Cazarré – encontrar um meio de mandar de volta para o Além o tataravô inconveniente. Tarefa complicada, já que a fórmula para desencarná-lo foi destruída por sua filha, enamorada pelo espírito. Eduardo consulta, por fim, um pai de santo, numa cerimônia de macumba retratada de forma satírica, repleta dos preconceitos da época aos cultos de origem africana.

Produzido com esmero, é nítido em O jovem tataravô o conhecimento técnico apurado dos mecanismos do horror cinematográfico que se fazia então, notadamente nas produções da Universal. É patente nas sequências iniciais essa inspiração, no tratamento de imagens e no uso do claro-escuro, como se pode ver na sessão espírita. Mas o enfoque muda logo a seguir: o alto contraste dá lugar a tomadas mais atenuadas e uniformes, de acordo com os padrões das comédias musicais.

Lúcio Reis



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