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O LOBISOMEM
1972-1975, RJ. Cor. 75 min. Direção: Elyseu Visconti Cavalleiro

Um homem excêntrico, que supostamente se transforma em lobisomem e ataca nas noites de sexta-feira, vive recluso em seu chalé numa floresta. O local é frequentado por algumas moças hippies, que são seduzidas e atacadas pelo monstro. Numa caverna próxima, Satanás surge nu e perambula pelas redondezas.

Dentre todos os monstros clássicos, o lobisomem é o que melhor foi assimilado pela cultura fílmica brasileira, talvez graças à sua selvageria primitiva, que tão facilmente incendeia a imaginação supersticiosa e faz brotar metáforas infindáveis. A criatura é tema do longa experimental O lobisomem, realizado por Elyseu Visconti Cavalleiro entre 1972 e 1974, no qual o licantropo ganha as feições de Wilson Grey, cavanhaque mefistofélico, além de revelar que tem centenas de anos e que ferveu em poço de enxofre. Paródico, inquieto e provocante (chegando à blasfêmia em alguns momentos), mostra um lobisomem que não fica peludo em noites de lua cheia e cujo aspecto sedutor – comicamente encarnado pelo típico malandro carioca – o aproxima do vampiresco Drácula.

Objetivamente, pouco acontece e nada se explica, mas o cinema de Cavalleiro é mesmo essencialmente imagético. Numa das primeiras tomadas, o lobisomem, mãos em garras, passa diante das janelas de um chalé, como um Nosferatu dos trópicos, o sol brilhando ao fundo no cenário verdejante. Assume desavergonhadamente o conceito de “onde se vê dia, veja-se noite”, desculpa filosófica inventada pelo colega Ivan Cardoso no média-metragem Nosferato no Brasil (1970).

Lobisomem udigrúdi, não precisa mostrar unhas de gavião, presas de cascavel e ódio no coração (como ele próprio se descreve) nem pilosidade lustrosa. Mais do que assustar, o monstro quer seduzir, preguiçosamente enroscando-se em moças atraentes no bosque, enquanto rola um rock delirante ao fundo – Jimi Hendrix, John Lennon e similares. Diferentemente de Os monstros de Babaloo (1970), o outro dos únicos dois longas de Cavalleiro – que pode ser lido como uma reinvenção tropical do controverso Freaks (1932), de Tod Browning, com elenco de grotescas aberrações humanas –, O lobisomem faz de Wilson Grey seu monstro-galã, da mesma maneira que há um fascínio decadente no Satanás encarnado por Paulo Villaça, cara de louco, se autossodomizando numa estalagmite no interior de uma gruta. Como diz, resignado, o lobisomem: “Pois é, amar foi minha ruína”.

Carlos Primati



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