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OLHOS DE VAMPA
1996, SP. Cor. 74 min. Direção: Walter Rogério

A melhor maneira de apreciar Olhos de Vampa é não levá-lo a sério. Com diálogos e interpretações que parecem idealizados por um calouro de faculdade, o longa empolga como uma sátira ao modelo de cinema paulistano dos anos 1980: filmagens nas ruas de Pinheiros (bairro tradicional de classe média), liberdade para o sotaque, ar nostálgico e decadente; flertando também com o terrir de Ivan Cardoso, sobretudo na metade final.

A história pode ser resumida em poucas palavras, e já se revela uma zombaria só. Policiais paulistanos saem no encalço de um assassino-vampiro, que suga o sangue das vítimas – mulheres jovens de corpo bonito – mordendo uma de suas nádegas.

É curioso ver atores como Antônio Abujamra e Marco Ricca dizendo bobagens homéricas. Abujamra, como o delegado, tem a primazia: “Não foi roubo, não foi vingança e não foi sexo”, dando a deixa para o policial, um canastrão inacreditável, completar: “É um vampiro”. Mais adiante: “Nós diremos que nosso principal suspeito é o passador de fumo”. E depois: “Se vocês notarem um homem com esse tipo perseguindo um traseiro bem feito, vão atrás, pode ser o nosso homem”. A última: “Nós temos que pegá-lo no ato, com a boca na botija”, despertando gargalhadas dos policiais. Isso tudo com apenas dez minutos de filme, um aperitivo do que vem em seguida.

Joel Barcelos, ator importante do cinema brasileiro, presente em filmes como A agonia, de Julio Bressane, e Rio Babilônia, de Neville D’Almeida, é o suspeito de ser o Vampa. Sua interpretação soturna, silenciosa, e o andar de Nosferatu contribuem para o interesse dessa narrativa tortuosa e atabalhoada, mas não destituída de certo charme ingênuo.

Walter Rogério, o diretor, tem uma das carreiras mais injustiçadas do cinema. Não há um verbete para ele na Enciclopédia do Cinema Brasileiro, de Fernão Ramos e Luiz Felipe Miranda. No entanto, sua estreia em longa-metragem foi com um filme bem interessante, chamado Beijo 1348/72, uma crítica à burocracia que emperra nossa cultura. Olhos de Vampa é seu segundo longa. Como montador, trabalhou no transgressor Hitler III Mundo, de José Agripino de Paula, filme de 1968, deflagrador de uma nova tendência que ficaria conhecida como “marginal”, para desespero de muitos e facilidade de outros. Sua carreira mais prolífica se deu como editor de som, trabalhando em diversos filmes entre 1978 e 1994. Como diretor, merece maior reconhecimento.

Sérgio Alpendre



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