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MANGUE NEGRO
2008, ES. Cor. 104 min. Direção: Rodrigo Aragão

Luiz, um simplório morador do mangue, finalmente cria coragem para se declarar a Rachel, a moça mais bonita do lugar. Porém, defuntos voltam à vida e infernizam os poucos habitantes da região, forçando o adiamento do romance do casal.

O filme de zumbi, não é exagero afirmar, é o subgênero por excelência do horror cinematográfico. Representado pela imagem do cadáver humano que se recusa a permanecer morto, teve seu cânone criado e desenvolvido a partir de A noite dos mortos-vivos (1968), do norte-americano George A. Romero. Filmes sobre o tema costumam ser o vestibular de muitos realizadores estreantes vinculados ao horror, talvez porque seja irresistível a ideia de que a morte não é o fim – ou porque o personagem de um zumbi raramente exija aprofundamento psicológico ou talento dramático por parte do ator que o interpreta: basta parecer morto e ameaçador.

Mangue negro marca a auspiciosa estreia em longa-metragem do capixaba Rodrigo Aragão, cuja experiência prévia fora o curta Chupa-cabras (2007). Realizado em esquema comunitário ao longo de quase três anos, ao custo aproximado de R$ 50 mil (cerca de 25 mil dólares), Mangue negro tem como cenário um agonizante manguezal no Espírito Santo, onde a pesca de caranguejos, ostras e peixes está cada vez mais escassa. A narrativa se inspira claramente em modelos estrangeiros do horror, especialmente em filmes como A morte do demônio, de Sam Raimi, e Fome animal, de Peter Jackson, apesar de a temática ser local, bem brasileira.

O talento de Aragão brilha mais intensamente nas cenas dos ataques de zumbis, com efeitos de maquiagem em estilo gore e impressionantes modelos animatrônicos. Também é necessário destacar o papel da Preta Velha, personagem que representa o espírito do mangue e sua sabedoria onisciente em todo o seu misticismo. Mangue negro é o testemunho pulsante do filme que cresceu e ganhou vida própria, alheio às vontades do próprio criador. É o filme da mocinha que se recusou a morrer no final; após anos de gravações, das crianças que pediram para ser zumbis; dos mortos-vivos que desistiram na etapa final de gravação, exaustos de tantas sessões de maquiagem e litros de sangue cênico. Com tudo isso, o filme tem uma atmosfera de estranha doçura, talvez por mostrar que, mesmo num cenário literalmente apodrecido, ainda existe espaço para o amor puro e sincero – mesmo que em meio a tripas e sangue.

Carlos Primati



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