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SHOCK
1984, SP. Cor. 78 min. Direção: Jair Correia

Jovens isolados num local distante, onde não podem receber ajuda dos adultos? Confere. Sexo, drogas e rock-’n’-roll? Confere. Um assassino misterioso, cujo rosto nunca é mostrado? Confere. Personagens estereotipados? Também confere.

Sendo assim, estamos diante de mais um autêntico slasher movie – um subgênero do horror/suspense em que incansáveis assassinos psicopatas, normalmente mascarados, perseguem jovens com os hormônios em ebulição. A diferença é que Shock não foi produzido nos Estados Unidos, pátria de slashers populares como Halloween (1978) e Sexta-feira 13 (1980), mas sim no Brasil, tornando-se uma das poucas contribuições nacionais a esse subgênero.

Shock foi escrito e dirigido por Jair Correia, então com 27 anos. É o seu terceiro e último filme, e, apesar das semelhanças com as produções estrangeiras, Jair garantiu não ter visto qualquer uma delas à época.

No filme, seis jovens (interpretados por Elias Andreato, Kiko Guerra, Taumaturgo Ferreira, Cláudia Alencar, Mayara Magri e Aldine Muller) são perseguidos por um misterioso assassino após um show de rock num lugar ermo.

Do vilão, só vemos as mãos e os pés. Ele calça coturnos, fato que leva a um criativo finalsurpresa. Também dá margem para diferentes interpretações. Segundo o diretor-roteirista, é uma alegoria: “Metaforicamente, o assassino é o próprio Sistema – a polícia, a política, o Exército, as forças de aniquilamento social, sejam elas quais forem”, explicou em entrevista a mim concedida em 2006.

Em comparação aos slashers importados, o filme é interessante por subverter alguns clichês típicos. A mocinha virgem e inocente interpretada por Mayara Magri, por exemplo, é uma das primeiras a morrer, ao contrário do que acontece nas moralistas produções estrangeiras (nas quais fazer sexo é um sinônimo de morte).

Além disso, os adolescentes brasileiros parecem muito mais inteligentes, pois preferem ficar todos juntos trancados num quarto ao invés de se separar o tempo todo para virarem vítimas fáceis. O próprio matador é uma figura mais humana e me-nos sobrenatural, que aparece assobiando, comendo, fumando e até tocando bateria para torturar as vítimas aprisionadas.

Hoje, alguns diálogos soam involuntariamente cômicos (“Essa casa tem um astral ruim”), e muitas situações já não surpreendem como na época. Mas a montagem é dinâmica e o esmero visual sobressai nas cenas das mortes, todas em câmera lenta – uma delas “iluminada” por uma luz estroboscópica, que parece estender o tormento da pobre vítima. E há belos momentos para os fãs do gênero, como a cena do rato (real) apunhalado pelo assassino ou a revelação do que aconteceu a um dos jovens que fugiu para buscar ajuda.

Felipe M. Guerra



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