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O SEGREDO DA MÚMIA
1982, RJ. Cor/P&B. 81 min. Direção: Ivan Cardoso

O que faz uma múmia viva no Brasil? Além de trazer surpresa geral, causa o espanto por algo terrivelmente fora do lugar que reivindica seu espaço, perturbando casais em motéis e tirando a paz das pessoas.

Ivan Cardoso realiza, com O segredo da múmia, uma verdadeira ode à invenção cinematográfica. O assunto é cinema, sem deixar de lado a diversão, com humor e frases lapidares. A trama reatualiza clichês clássicos, com um sabor tropical. É a inauguração do terrir, gênero do qual Ivan se tornou mestre.

Há no filme interpretações memoráveis. Wilson Grey como professor Expedito Vitus, que vive entre o sonho da fama e as experiências visionárias – herdeiras daquelas empreendidas pelo professor Oãxiac Odez no clássico episódio Ideologia, de José Mojica Marins.

Felipe Falcão, no papel do ajudante-geral Igor, é uma espécie de Stroheim fiel e alucinado. A cena da operação de Igor, com a cabeça desenhada, sob o olhar curioso de Rodolfo (Júlio Medaglia), é um momento de glória do deboche na invenção.

A dupla Regina Casé e Evandro Mesquita, saídos do grupo de teatro Asdrubal Trouxe o Trombone, e Clarice Piovesan, como Gilda, fazem um leve contraponto àqueles personagens. E no meio de tudo está o trágico faraó Runamb (Anselmo Vasconcellos).

A trilha sonora de Medaglia, premiada em vários festivais, é um capítulo especial. Uma verdadeira aula sobre a música na história do cinema, mais do que pontuar ou criar climas, ajuda a embaralhar o épico com a farsa. Até a dublagem dos atores está ali para se fazer notar. E não faltam cenas de dunas e cavalos num areal da Barra da Tijuca.

No cinema brasileiro, o jogo de recriações e referências presentes em O segredo da múmia só encontra paralelo em alcance com O bandido da luz vermelha. O universo do filme B os aproxima, e Sganzerla foi buscar o tema nas notícias de jornal, enquanto Cardoso recorreu aos pergaminhos de Runamb para mostrar o Brasil e o cinema.

A ideia de filmar as aventuras de uma múmia no Brasil – sugestão do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro – acompanhava o diretor desde 1972, quando tentou realizar A múmia volta a atacar, e depois, em 1977, com O lago maldito, que serviu de base para O segredo.

“Contra a cópia mimeográfica, a invenção mumiográfica”, sentenciou o mestre Jairo Ferreira, para quem o verdadeiro segredo da múmia estava em seu andar sincopado. Um andar incômodo, desconcertando o presente.

Alessandro Gamo



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