RITUAL MACABRO - THE RITUAL OF DEATH
1991, SP. Cor. 84 min. Direção: Fauzi Mansur

Alucinação, sexo, sociedades primitivas e zumbis canibais. Mais uma vez, a origem de todo o mal emana de um único livro. E do maldito teatro, claro. Fauzi Mansur profana antigas culturas, seus totens e tabus, para nos presentear com mais essa pérola do cinema brasileiro que, para horror dos estudiosos mais tacanhos da matéria, é falada em inglês. Deve ser por isso que eles ainda não entenderam porque obras como essa, e não outras, são tão fundamentais para se discutir seriamente as principais questões do cinema brasileiro.

Quem quiser pensar o cinema de gênero que era feito no Brasil em termos de “qualidade” (o que é isso?) vai se dar mal e perder o que ele tem de melhor. Mas não quero dizer com isso que The ritual of death seja um filme trash, pelo menos não no mesmo sentido que um Seduzidas pelo demônio ou um Bonecas diabólicas, duas obras-primas dignas de antologia. Filmando dentro das limitações impostas por uma produção que se pode chamar de “classe B”, Fauzi apresenta um filme muito bem realizado, quase americano mesmo, sem tempos mortos (só mortos-vivos) e com uma São Paulo de filme inglês surpreendente, de tirar o chapéu.

Destaque para a fotografia de Antonio Meliande, em total harmonia com a direção de arte de Leo de Leoni e Fausto Paez e com os sensacionais efeitos especiais de Vagner dos Santos. A montagem também não deixa a peteca cair. O filme segura e diverte o espectador, e não deixa de ser incompreensível o fato de não ter se tornado um clássico das madrugadas – ou mesmo das sessões da tarde – nos canais de TV.

Fauzi Mansur é um dos principais nomes do bom e velho cinema que era praticado na rua do Triunfo e arredores, verdadeira antítese do cinema hoje teorizado nos cursos universitários, contemplado pelos editais públicos e pelos departamentos de marketing das estatais que financiam a “retomada”.

Quando o pornô invadiu as salas de cinema de São Paulo para minar a verdadeira bollywood paulistana (não essa da Vila Clementino), o diretor e produtor aderiu ao gênero como quase todo mundo. Mas, no final dos anos 1980, quando a coisa realmente ficou preta, Fauzi não ficou choramingando como a maioria de seus colegas, deu a volta por cima e realizou uma pequena série de fitas de terror, todas em inglês e com olhos voltados para o mercado externo.

Parece que a estratégia funcionou, mas os filmes permanecem praticamente inéditos no Brasil. The Mouth of Trash is on the screen! Screams, bastard!

Remier Lion