Leila feliz

Ana Maria Miranda

 

Leila Diniz, uma mulher de asas, livre, leve, alegre. Uma história de nossa alma feminina, que precisamos escrever, e ler, e contar em voz alta, até conseguirmos compreender. Uma nova ética, nova lógica, nova paixão. Um curso. Uma filosofia. Um rio de mulher, em sua correnteza se jogar.

O mundo se torna cada vez mais intraduzível, mais complexo e mais fragmentado, e Leila, professorinha, tem uma aula de nova compreensão do mundo, seja como ele venha a ser. Seu problema não era o de um tempo, mas o de uma existência, por isso ela aprendeu tanto. É preciso cultivar essa flor Leila Diniz, essa mulher frondosa de delicadas sombras e luzes, seios maternais assustadores, mulher leite, cabelos finos trançados. Seu riso e sua dor podem tudo conter. Devemos nunca esquecer de regar suas raízes, que são as raízes de nossa sabedoria feminina deste século indefinível, a sabedoria de ser sempre mulher, mas uma nova mulher, e devemos nunca esquecer de olhar seus retratos, olhar longamente seus retratos, suas tranças, seus dentes, seu amamentar, seus olhares, olhar até penetrar em seus sonhos, nunca deixar de imprimir e reimprimir seus retratos, que são o retrato da doçura, da ternura, da revolução, do sublime amor, que são o segredo da magia sexual, do encanto irresistível, da transcendência feminil, da barriga, da Lua e do parto. Nunca deixar de entender uma mulher assim. Nunca, jamais, perder o que ela esqueceu de levar consigo, e o que não poderia levar. Ela deixou para nós um grande enigma, e as chaves de sua solução. Um mundo novo. O ícone, a mulher pura, de uma pureza iluminada, e uma desinteressada e sublime alegria de viver. Uma mulher que nunca ordenou, nunca traiu.

 

Tudo tem um sentido revolucionário, portanto, faça o que tiver de fazer, experimente, realize, exprima, impulsionada por uma torrente de paixão pela arte e pela vida. Isso é viver. Isso é ser Leila Diniz, que sempre foi o que sempre quis. Devemos nunca deixar de sonhar com Leila, sonho maior que o sonho, sonho maior do que nós mesmos, sonho de consertar o mundo, de enxugar as lágrimas alheias, de reparar as faltas cometidas contra uma pessoa aqui, outra ali, sonho de amar os pobres, os desamparados, os que sofrem privação, os que carecem de amor, os sem carinho nos cabelos, os tímidos, nunca devemos deixar de falar seu nome, Leila Diniz Leila Diniz, nem de filmar suas danças, nem de cantar sua voz, nem de pintar sua beleza incomum, nem de expressar as suas realidades, fazendo parte delas. Nunca deixar de nadar em seu oceano, em suas águas mornas e fundas, até o horizonte. No rosto de Leila Diniz pode estar o nosso rosto, o rosto de uma longa e antiga história de um povo alegre e triste, e no seu rosto pode estar toda a formação de nosso rosto, como um povo, dentro de um mundo, libertado pelo grito de felicidade, pelos braços que se abrem diante do amar. Leila Diniz, faça-me feliz.