Portal Brasileiro de Cinema  CORISCO, O DIABO LOIRO

CORISCO, O DIABO LOIRO

1969, 35 mm, cor, 100 min

 

Cristino é obrigado a matar um homem, tendo então de fugir para longe a fim de não ser preso. Perseguido por um delegado, Cristino torna-se cangaceiro entrando para o bando de Lampião e adota a alcunha de Corisco. Já integrado ao bando ele rapta Dadá, que o odeia muito tempo, mas ela acaba se apaixonando e vivendo no sertão com o cangaceiro por doze anos.

Impossível falar sobre Leila Diniz sem reviver prazerosas lembranças, sem reavivar momentos inesquecíveis, sem reascender a chama calorosa de sua presença e o encantamento de sua personalidade e inteligência.

Depois de ter convivido com ela por vários meses, na pacata solidão de Congonhas do Campo, durante a realização de A madona de cedro, foi mais do que maravilhoso contar com sua participação como estrela do filme Corisco, o diabo loiro.

Leila já era uma atriz consagrada, cinematográfica e globalmente, mas com a simplicidade e dedicação profissional que caracterizavam os grandes artistas, entregou-se por inteiro à difícil tarefa de reviver a cangaceira Dadá, uma das mais autênticas figuras femininas existentes na fase épica do cangaceirismo.

 
 
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Nós, os realizadores do filme, nos propuséramos a reconstituir, com o máximo de autenticidade e realismo, a tumultuada existência do famigerado casal Corisco e Dadá. Por isso, trouxemos da Bahia para São Paulo a fiel companheira do cangaceiro que era o principal companheiro de Lampião, para que nos revelasse acontecimentos inusitados da epopéia violenta que protagonizou nas caatingas nordestinas, dominadas por mais de 20 anos pelas hostes do Rei do Cangaço. Ótima costureira que era, Dadá também executou todos os adornos e vestimentas utilizados no filme, permanecendo conosco por vários meses. A convivência de Leila com a ex-cangaceira foi ótima desde o primeiro momento, não apenas devido à cativante facilidade da atriz em comunicar-se e fazer amigos, mas também por sua determinação em captar o mais profundamente possível a personalidade e as emoções do ser humano que iria viver na tela. Complementando tudo, houve uma providencial coincidência de semelhança física entre Leila e Dadá, conforme fotos da época. Esse bom relacionamento contribuiu muito para que Leila - com seu enorme talento - revivesse magnificamente a figura frágil da menina seqüestrada à força e cujo ódio pelo homem que a violentou transformou-se gradualmente em admiração e amor total até o fim de suas vidas. Uma trans­formação somente compreensível num mundo anormal como aquele.

 
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Leila inculcou na personagem cinematográfica uma veracidade humana tão intensa que a própria biografada reconheceu e aplaudiu entusiasticamente.

Leila Diniz foi, também, marcante personalidade do feminismo no Brasil, provocando inúmeras polêmicas de grande repercussão.

Com indomável determinação de independência, obstinada dedicação a sua carreira, lealdade e transparência de comportamento, tornou-se espontaneamente um símbolo da mulher brasileira de vanguarda para o seu tempo de avanço e pioneirismo.

Leila prenunciava um futuro glorioso e consagrador, como artista e como mulher. Infelizmente foi-nos arrebatada muito precocemente, interrompendo uma carreira em plena fase de crescimento e maturidade.

Serei imensamente feliz se Corisco, o diabo loiro puder contribuir – pouco que seja – para consolidar mais ainda, entre nós e a nova geração, a perpetuação da personalidade adoravelmente humana e autêntica que foi a nossa inesquecível Leila Diniz.

Carlos Coimbra

Direção: Carlos Coimbra

Roteiro: Carlos Coimbra

Direção de fotografia: Osvaldo de Oliveira

Montagem: Carlos Coimbra

Música: Gabriel Migliori

Produção: Aníbal Massaini Neto

Elenco: Maurício do Valle, Leila Diniz, Turíbio Ruiz, Maracy Mello, Milton Ribeiro, John Herbert, Dionísio Azevedo, Georgia Gomide, Antônio Pitanga, Tony Vieira e Jofre Soares

Companhia produtora: Cinedistri