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A MADONA DE CEDRO

1968, 35 mm, cor, 110 min

 
 
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Delfino, instigado pelo amigo Adriano, colabora com uma quadrilha no roubo da Madona de Cedro em Congonhas do Campo. Após cometer o crime Delfino sente muito medo, sentimento que foge ao seu controle quando o grupo descobre ter roubado a cópia da relíquia e resolve devolvê-la, levando a população a acreditar de que se trata de um milagre.

A madona de cedro foi filmado em Congonhas do Campo em dois meses. Eu sou de uma geração anterior à da Leila, já vinha mais evoluído no processo de cinema, enfim, era mais tarimbado e mais experiente, e a Leila estava praticamente começando, estava começando em tudo na vida. Não conhecia Leila Diniz, só conhecia sua personalidade de fama, das manchetes. Ela fez parte de uma geração que rompeu as barreiras de quase tudo e foi pioneira nisso. Então, tive um certo receio de encontrar com a Leila, tive medo de um choque entre a minha geração e a dela. Mas fui, mesmo com um certo receio, – porque eu era um profissional daquela escola antiga, que todo mundo chama "careta" – trabalhar com a Leila Diniz e ela era tão careta quanto eu. Era uma profissional maravilhosa, uma atriz seríssima, pensávamos da mesma maneira. Ela só tinha a coragem para romper com certas coisas que nós não tivemos.

Tínhamos uns vinte anos de diferença de idade, mas parecia que ela já me conhecia há 20. Leila deixava a gente à vontade. Eu, que sou uma pessoa tímida, um cara tímido, me sentia muito à vontade com ela. De cara vi que era uma pessoa muito simples e no fundo também uma pessoa tímida em certas coisas, apesar de toda a sua extroversão. Nós passávamos horas conversando, Leila era uma pessoa acessível a qualquer um, desde o contra-regra, o maquinista, o diretor, não fazia diferença. Aprendi muitas coisas com ela e ela muitas comigo, porque ela vinha conversar muito, vinha pedir opiniões. Não era uma pessoa "estrela", era uma atriz de talento, além de bonita.

 
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Leila era a única mulher da equipe, só havia ela e a continuísta, depois chegaram outras que faziam dois, três dias de filmagem e iam embora, mas quem ficou lá dois meses foram ela e a continuísta. Leila Diniz, com aquela fama toda, chegou bonita, moça, e disse: "Não me cantem porque eu não estou a fim de dar pra ninguém, se eu quiser, vocês vão saber logo pra quem". Acabou! Acabou! Então, isso foi fantástico, fantástico. E ela não teve nada com ninguém, ficou amiga de todo mundo. Ninguém cantava a Leila, ninguém enchia o saco dela.

O Carlos Coimbra era muito cuidadoso, era um diretor que entendia de cinema. Na noite anterior líamos a cena, discutíamos, e ensaiávamos as cenas do dia seguinte no hotel, com ele dirigindo e o assistente. As pessoas, câmeras, etc., todos assistiam ao ensaio, não eram papéis difíceis. Leila fazia aquilo com a maior facilidade, embora fosse uma coisa totalmente diferente dela. E para mim também não foi difícil, porque já vinha de outros papéis mais difíceis.

 
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Quando não estávamos filmando, ficávamos na janela conversando, mexendo com os outros, era muito gostoso. O hotel que ficamos em Congonhas do Campo era ponto de encontro da garotada, das moças, que se reuniam lá no domingo, no sábado, enfim, era o footing deles. Quando Leila chegou as meninas desapareceram – o dono do hotel tinha uma filha mocinha. Leila começou a perceber, nós todos começamos a perceber, que o preconceito contra ela era evidente. Mas elas todas tinham curiosidade de conhecer Leila, todas, inclusive a mocinha filha do dono do hotel. Um dia que não teve filmagem elas se encontraram: Leila estava lendo numa sala e a menina passou, trocaram umas palavras, começaram a conversar. E aí passaram a conversar mais, a menina começou a procurá-la e ficou adorando Leila. Três dias depois, todas as garotas da cidade estavam lá, amicíssimas dela. No dia de folga da Leila, elas iam buscá-la e ficavam o dia inteiro com ela, passeando, na casa de uma, na casa de outra, Leila ficou sendo uma pessoa querida na cidade.

A ala intelectual do cinema, o Cinema Novo, achava o filme um filmeco, um filmezinho comercial, mas ele teve muito sucesso de público. E o filme não envelheceu, não está antigo, como certos filmes. É a linguagem de cinema que envelhece, não os filmes nem a história.

Leonardo Villar

Direção: Carlos Coimbra

Roteiro: Carlos Coimbra a partir do romance homônimo de Antônio Callado

Direção de fotografia: George Pfister

Montagem: Carlos Coimbra

Música: Gabriel Migliori

Produção: Oswaldo Massaini

Elenco: Leonardo Villar, Leila Diniz, Anselmo Duarte, Jofre Soares, Ziembinski,
Cleide Yáconis, Leonor Navarro, Américo Taricano e Sérgio Cardoso

Companhia produtora: Cinedistri e Metro Goldwyn Mayer