Portal Brasileiro de Cinema  LEILA PARA SEMPRE DINIZ

LEILA PARA SEMPRE DINIZ

1975, 35 mm, cor, 10 min, curta-metragem

Documentário sobre Leila Diniz, que faleceu em 1972, com depoimentos de Eli Diniz, Ana Maria Magalhães e Luiz Carlos Lacerda. O filme também recupera algumas cenas das películas mais importantes nas quais a atriz trabalhou.

 
Divulgação

1974. Eu estudava jornalismo na PUC. Meu namorado, Sergio Rezende, só pensava em fazer filmes e me arrastou para seu lado. Com uma câmera Paillard Bolex de corda, nós vivíamos filmando aqui e ali, com uns rolinhos de filme 16 mm. Era tudo muito amador, no melhor sentido da palavra. Um dia, Sergio decide fazer um documentário sobre o Dia de Finados. Saímos os dois para o Cemitério São João Batista e, de repente, no meio daquela multidão carregando flores e saudades, eu vi escrito sobre um túmulo: “Leila para sempre Diniz”. Esse é o título de uma crônica que o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu quando da morte de Leila e que identifica a sua lápide. Ao passar ali em frente eu decidi : não vamos fazer filme nenhum sobre o Dia dos Mortos, mas sim um curta sobre a Leila. Sergio me olhou espantado, mas sentiu que eu já estava "encantada". Afinal, Leila era uma referência na minha vida, uma paixão vivida de longe e nada como cinema para nos aproximar ainda mais...

Dias depois, começamos a estudar e pesquisar tudo que havia sobre ela. Filmes, novelas, entrevistas de jornais, rádio, tv, fotos, etc. Todo e qualquer material nos interessava. Alguns meses depois estávamos prontos para filmar e agora em 35mm. Aproximamo-nos de seus amigos, que generosamente nos acolheram, apesar de sequer nos conhecerem na época. Paulo José emprestou sua voz à locução; Milton Nascimento gravou três músicas num velho piano abandonado no Museu de Arte Moderna; Ruy Guerra, Domingos de Oliveira, Bigode, Ana Maria Magalhães, Baby Diniz e tantos outros abriram suas portas para nos receber, em nome de Leila. Sergio e eu, dois jovens iniciantes no cinema, sabíamos que estávamos jogando alto: se o filme fosse ruim...

A primeira sessão no MAM quase nos provocou um enfarte, tal a ansiedade em ver aprovada nossa homenagem à Leila. Nesse dia, aprendi que pré-estréia só se enfrenta com Lexotan. Lágrimas durante e após a sessão nos elevaram aos céus. Leila para sempre Diniz foi a nossa primeira e única co-direção durante todos esses anos de trabalho e casamento. Nascia ali a Morena Filmes. Meses depois, o filme foi vendido para a TV Globo e tornou-se o primeiro curta brasileiro a ser exibido na íntegra num programa de grande audiência, o Fantástico. Posteriomente foi exibido em salas de cinema, provocando sempre reações de adesão e carinho. Leila para sempre Diniz foi nosso passaporte abençoado para a vida profissional. Anos depois, eu fiquei grávida de minha primeira filha e pensava em dar-lhe o nome de Leila. Um dia, tive um sonho perturbador: grávida, eu nadava num mar claro, límpido. Meu barrigão cheio d’água boiava no mar azul. De repente, surge uma sereia, uma sereia com rosto. O rosto de Leila Diniz. Ela me olha, sorri e sem nada dizer me convence a não chamar minha filha de Leila. Nasce então Maria, depois vieram Tiago e Julia. Entre eles, filmes, muitos filmes. Sonhos, projetos e a ainda crescente vontade de fazer cinema num país chamado Brasil.

Mariza Leão

Direção: Sérgio Rezende e Mariza Leão

Roteiro: Sérgio Rezende e Mariza Leão

Direção de fotografia: Murilo Sales e Luiz Carlos Saldanha

Montagem: Nelo Melli

Música: Milton Nascimento

Companhia produtora: Morena Filmes e Alter Filmes