Portal Brasileiro de Cinema  MINEIRINHO VIVO OU MORTO

MINEIRINHO VIVO OU MORTO

1967, 35 mm, P&B, 90 min

 

A trama inspira-se em notícias da crônica policial sobre a vida de José Rosa de Miranda. Após matar acidentalmente o bandido Arubinha, José, que mora num morro carioca, é transformado pela imprensa sensacionalista em perigoso bandido, apelidado Mineirinho. Procurado pela polícia e por marginais ligados a Arubinha, ele acaba por efetivamente entrar na vida do crime participando de assaltos.

Madrugada de uma noite fria e chuvosa na estação de Mangueira. Uma jovem mulher, roupas humildes, sapatos pobres, cabeça escondida entre os braços cruzados que servem de travesseiro, dorme sentada nas escadarias. Pego uma lata de negativo, usada, semelhante a essas latas redondas de marmelada, e coloco-a a seu lado. Depois coloco uma nota de cruzeiro, a de menor valor, e me afasto. A mulher continua adormecida, imóvel.

Logo em seguida pára o primeiro trem, despejando alguns passageiros sobre a plataforma. Um homem jovem, com cara de sono, tira do bolso uma moeda e pinga-a na lata da mulher que dorme. Uma senhora de idade faz um gesto de reprovação, mas também pinga sua esmola e afasta-se com pressa. O trem dá a partida e seu barulho acorda a jovem mulher. Ela se espreguiça, vê a lata, sorri, pega o dinheiro, conta-o:

– Chediak, você é um filho da puta! Vamos ver se tem algum boteco aberto e tomar um conhaque. Eu pago. Estou com um frio desgraçado.

A mulher era Leila Diniz, e estávamos filmando Mineirinho vivo ou morto.

 
Divulgação

Naquela época, o cinema era feito de sonhos, as atrizes ajudavam a varrer o cenário e a equipe tinha que caber dentro de uma kombi. Não havia "cadeira do diretor", nem "cadeira do ator", e, "trailer para a atriz" era coisa que, ouvíramos dizer, existia em Hollywood. Por isso Leila, can­sada, trabalhando como atriz e ajudando a fazer os sanduíches de mortadela, adormecera na escadaria da estação.

Não me lembro se ela já era mito, se Todas as mulheres do mundo já havia sido lançado. Mas nos encontrávamos quase todas as noites no apartamento do diretor, Aurélio Teixeira, e sua mulher, a atriz Gracinda Freire, Glauce Rocha, Glauber, Geraldo del Rey, Catulo de Paula, etc também freqüentavam "a casa do Aurélio", onde eu escrevia o roteiro do filme. E todas as noites, terminado o trabalho, Leila me pedia uma "carona". Não, eu não tinha carro. A "carona" era irmos no mesmo ônibus – quando tínhamos dinheiro – ou a pé, até a TV Rio, no posto Seis, onde ela ia encontrar-se com seu namorado.

 
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Quase da mesma idade que ela e trabalhando no mesmo meio, era natural que nos encontrássemos sempre. E várias vezes eu a vi aconselhando jovens atrizes e atores. Mostrando caminhos e incentivando-os a batalhar, batalhar, batalhar. Leila era uma batalhadora.

Hoje, revendo seu trabalho, confirmo a grande atriz que ela era: intuitiva, natural, verdadeira. Leila Diniz marcou profundamente uma época. Não sei se foi feliz. Sua paixão foi o cinema. Acho que foi correspondida.

Braz Chediak

Direção: Aurélio Teixeira

Roteiro: Braz Chediak e Aurélio Teixeira

Direção de fotografia: Ruy Santos

Montagem: Rafael Justo Valverde

Música: Silvio César

Produção: Herbert Richers e Jece Valadão

Elenco: Jece Valadão, Leila Diniz, Gracinda Freire, Fábio Sabag, Oswaldo Loureiro,
Wilson Grey, Milton Gonçalves, Edson Silva, Nanai, Hugo Brando
e Milton Moraes

Companhias produtoras: Produções Cinematográficas Herbert Richers e Magnus Filmes