Fernão Ramos

Marginal é um nome como outro. Aponta para o estado de espírito de uma geração que decidiu fazer cinema, remoendo por dentro um universo ideológico novo, sob o choque múltiplo de uma revolução de costumes e de uma revolução social.

Na realidade, ainda vivemos hoje nos anos 60. Este é o eixo da produção, muito mal conhecida, que dá o tom no Cinema Brasileiro entre 1968 e 1974. A vanguarda sempre existiu e vai existir depois. O canto melancólico dos excluídos da mídia também. Mas o marginal-herói, o marginal no centro, o marginal como proposta de choque, de ruptura, o marginal sob a pele, construindo sua densidade enquanto movimento, vive neste período. E mais _ nunca poderemos esquecer: o horror, a proximidade agoniante do inimigo prepotente e autoritário; a ameaça da lenta e ignóbil destruição física: a tortura.

Os filmes do Cinema Marginal trazem este horror, com todas as ssuas letras, em uma representação reiterada das figuras da abjeção. Esta é a marca de uma ruptura que mais tarde seria diluída, absorvida, e transformada em ideologia dominante na virada do século XX. Na intensidade dilacerante destes filmes, nas estruturas rompidas da representação, um grito de agonia e horror percorre o universo ficcional. Como a lembrar as dores do parto de um contexto ideológico que nascia ali e que, talvez por isso, também lá possui sua intensidade maior.