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1975 . José Celso Martinez Corrêa e Celso Luccas
São Paulo, 130 minutos, 16mm, p&b

 
 

Fazer a primeira imagem de uma revolução, produzir uma revolução através das imagens. Esse sonho já pertenceu a Eisenstein e a Glauber Rocha e, com a influência direta e visceral desses cineastas, Zé Celso e Celso Luccas se iluminaram para documentar a independência de Moçambique, em 1975. Do cineasta russo, os diretores incorporam a montagem intelectual, além das cenas de estátuas caindo (referência direta ao filme Outubro). Do diretor baiano, o filme está impregnado de uma trilha sonora criativa, de sons e imagens que remetem a História do Brasil e a Terra em transe (com pessoas carregando cruzes, citando o personagem glauberiano Porfírio Diaz) e principalmente da vontade de criar um cinema para o Terceiro Mundo, um cinema descolonizado. Pode constatar essa vontade glauberiana de um novo cinema na tentativa de entender a realidade imediata, os fatos que estão acontecendo, pela perspectiva sociológica e histórica. Para tanto, o filme narra a ocupação portuguesa em Moçambique, a ligação entre as corporações multinacionais e o trabalho forçado, o racismo e os massacres gerados pela desorganização das revoltas. Também focaliza o nascimento da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), a luta armada iniciada em 1964 e finalmente a vitória e a independência do país, em 1975. Apesar da visão histórica, o filme tem consciência de sua visão particular e não se pretende fundar como objeto neutro. Se um certo tipo de pensamento, muito ligado ao senso comum, acredita na neutralidade como caminho mais ético para documentar algo, 25 ruma em sentido oposto. Em nenhum momento os diretores tentam escamotear sua simpatia pelos revolucionários da Frelimo e pela nova situação vivida em Moçambique. Um belo exemplo disso é quando o presidente Samora Machel desce do avião ao som da música “Zumbi”, de Jorge Ben Jor, demonstrando a adesão do filme à personagem e à revolução que culminou com a libertação de Moçambique. Em alguns momentos, esse “desbunde” torna-se quase piegas na simbolização de imagens, como no caso da usina Cabora-Bassa, uma das metáforas utilizadas pelo filme para demonstrar o processo de exploração e de colonialismo brutal vivido em Moçambique antes da independência. Quando a liberdade é anunciada, as águas jorram das válvulas da usina. Assumir posições torna-se caro para o filme, mas, por isso mesmo, ao contrário do acredita o senso comum, o faz mais ético.

Vitor Angelo

Cia. produtora: Instituto Nacional de Cinema de Moçambique, Oficina Samba

Direção e roteiro: José Celso Martinez Corrêa, Celso Luccas

Fotografia: Celso Luccas, Guilherme Costa

Montagem: Celso Luccas, Manuela Moura