DOCUMENTÁRIO

1966 . Rogério Sganzerla
São Paulo, 11 minutos, 16mm, p&b

 
 

Sempre se andou muito no cinema brasileiro. Seja o andar da angústia (Limite, de Mário Peixoto), da perplexidade (O desafio, de Paulo César Saraceni), do amor (Ganga bruta, de Humberto Mauro), da fé (São Jerônimo, de Júlio Bressane), da crença em algum lugar melhor (Orgia, ou o homem que deu cria, de João Silvério Trevisan), da procura e da solidão (São Paulo S/A, de Luís Sérgio Person) ou mesmo o andar para a morte (Terra em transe, de Glauber Rocha); o perambular já faz parte de uma certa ação dentro do nosso cinema. Documentário é um desses belos exemplos de como a deambulação pode produzir imagens e idéias. No filme, entretanto, diferentemente dos citados, os personagens andam em busca da perfeição. Realizado com o incentivo do “guru” e presidente da Cinemateca de Santos Maurice Legeard, o filme narra as conversas e andanças de dois jovens sem muito o que fazer, que procuram uma sessão de cinema para passar o tempo. Mas o que o filme realmente mostra é a dúvida de toda uma geração: “Que filme fazer?”. Sintonizado com as discussões, muito pertinentes na época, sobre cinema e vida, ficção e documentário (apesar de o nome do filme ser Documentário, o que é produzido, aparentemente, é ficção), Sganzerla faz sua ode ao cinema. Neste seu primeiro filme é possível encontrar alguns traços marcantes do diretor. Além da paixão pelo cinema e pela metalinguagem, podemos constatar seu completo domínio da mis-en-scène dos atores e da câmera e sua fina ironia (atentem para o final do curta). Enfim, um filme que anda para a frente e na vertical, muito diferente dos rumos que nosso cinema tem tomado hoje.

Ruy Gardnier

Direção, roteiro e montagem: Rogério Sganzerla

Fotografia: Andrea Tonacci

Elenco: Vitor Loturfo, Marcelo Magalhães