Portal Brasileiro de Cinema AMÉRICA DO SEXO
AMÉRICA DO SEXO 1969 . Luiz Rosemberg Filho, Flávio Moreira da Costa, Rubens Maia, Leon Hirzsman Acreditava-se àquela epoca que aliberação política deveria vir juntocom a liberação sexual. “Esporrarjatos de napalm”, a frase de PrataPalomares (André Faria Jr.)posteriormente repetida emCrônica de um industrial (LuizRosemberg Filho) simbolizavamais do que uma metáfora: oinstinto sexual vinha junto com opolítico, e a angústia surgia porque o gozo social era mais difícil do que o individual. No título do filme América” e “sexo”; e sua tentativa é justamente a de exorcizar sexualmente aquilo que não pode ser resolvido no Brasil de 1969, menos de seis meses depois da promulgação do AI-5, ou seja, a política. Espécie de versão tupiniquim e porra-louca de As bruxas — filme italiano em episódios, de diferentes diretores, com a mesma protagonista (Monica Vitti) —, em América do sexo a protagonista é Ítala Nandi. Dirigem-na dois diretores estreantes — Flávio Moreira da Costa e Rubens Maia, que, depois, não seguiram carreira —, um cineasta iniciante — Luiz Rosemberg, que já tinha feito um longa —, e um diretor experimentado — Leon Hirszman, nome de proa do Cinema Novo, que muda de ares neste projeto. Filme associado à experiência lisérgica e ao “barato” a que se entregaram os artistas e intelectuais do pós-68, América do sexo é às vezes surpreendentemente certinho no conteúdo (“Colagem” e “Bandeira zero”) e na forma (“Balanço” e “Bandeira zero”). Pode recorrer ao clichê da prostituta que gosta da profissão porque lhe dá liberdade ou contar o relato moral um tanto tolo da mãe de família religiosa que se entrega ao gozo dos mais jovens quando descobre que tem um corpo e que é infeliz com ele. Filme feito a jato, rápido e improvisado, América do sexo não tem muito a dizer mas tem algo a mostrar. Não à toa, os filmes sem crédito de roteiro são os mais interessantes: “Colagem” e “Sexta-feira”. “Colagem”opera uma disjunção profunda entre as seqüências que mostra, e o espectador precisa construir alguma coisa nos interstícios para continuar vendo o filme. Em “Sexta-Feira da Paixão, Sábado de Aleluia”, planos-seqüência expõem um grupo de pessoas (que logo torna-se apenas um dueto, com Luiz Carlos Saldanha e Ítala Nandi) improvisando na frente da câmera. O que importa, mais do que interpretar, é valorizar a força do instante e responder na hora às exigências da cena. Quando os filmes não estão preocupados demais em nos dizer coisas, eles mostram com afetividade os lugares e as músicas que agradam a seus autores, o que torna os episódios mais interessantes. Assim, às historinhas de “Colagem”, devemos preferir as filmagens no Aeroporto Santos Dumont, no MAM RJ, no Aterro do Flamengo ou nas ruas do Centro do Rio (com destaque para os travellings na Perimetral); da mesma forma que a inserção da música de Jimi Hendrix no segundo episódio e a de Roberto Carlos no terceiro são mais interessantes do que aquilo que os filmes narram. No filme de Leon Hirszman, a ausência de história é a própria história, a que se faz no processo da filmagem. Mais happening filmado do que filme, mais invenção do que certeza, “Sexta-Feira da Paixão, Sábado de Aleluia” traz com frescor a época em que foi feito e ganha com corpos de vantagem. Ruy Gardnier Cia. produtora: Saci Filmes 1º episódio: “Colagem” 2º episódio: “Balanço” 3º episódio: “Bandeira zero” 4º episódio: “Sexta-Feira da Paixão, Sábado de Aleluia” |