OLHO POR OLHO

1966 . Andrea Tonacci
São Paulo, 20 minutos, 16mm, p&b

 
 

Muito antes da globalização, os artistas brasileiros já estavam sintonizados, conscientemente ou não, com as discussões estéticas travadas no Primeiro Mundo (isto é, os exportadores de cultura e idéias). É só pensarmos em trabalhos de artes plásticas como os Metaesquemas de Hélio Oiticica ou os Bichos de Lygia Clark, que dialogavam com questões que a arte conceitual e o minimalismo iriam debater durante todos os anos 60. Ou, em cinema, nas experimentações da Nouvelle Vague e do Underground americano, que iam sendo extremamente deglutidas pelo nosso cinema e respondidas de maneira original, com o importante detalhe de que nossos artistas estavam muito mais atentos para o Brasil do que para o mundo. Havia uma tremenda força produtiva e criativa desses artistas durante toda aquela década. E Tonacci é uma dessas forças. Por isso mesmo não é de se estranhar que um certo mal-estar, sentido pelos personagens de Olho por olho (mas nunca racionalizado), encontre ecos posteriores em filmes como Laranja mecânica, de Stanley Kubrick. É pouco provável que o diretor inglês tenha assistido o curta de Tonacci, mas o diálogo entre os dois é impressionante. Primeiro pelo profundo senso estético de ambos diretores na formalização dos filmes e depois pela questão de uma violência que parece não ter razão e que permeia toda a narrativa. Essa violência irracional, que acompanhamos durante o curta, vai se formalizar, anos depois, no explosivo primeira longa de Tonacci, Bang bang (1971) — e em todo o Brasil e no mundo (porque Tonacci continua sintonizado), nesses fatídicos dias de começo de milênio em que vivemos.

Vitor Angelo

Cia. produtora: Total Filmes

Direção, roteiro e fotografia: Andrea Tonacci

Montagem: Rogério Sganzerla

Elenco: Daniele Gaudin, Fábio Sigolo, Francisco Arruda, Ronaldo Ferraz, Franco Ogassawara, Sérgio Frederico