CRIOULO DOIDO

1970 . Carlos Alberto Prates Correia
Minas Gerais, 83 minutos, 35mm, p&b

 
 

Não, caro leitor, Crioulo doido NÃO é baseado no samba-paródia de Stanislaw Ponte Preta. Até poderíamos pensar que sim, principalmente pelas coincidências entre o crioulo do filme e o do samba. Ambos querem ser aceitos por esta sociedade mestiça que se acha branca: o do filme, enriquecendo, subindo na vida, casando com uma mulher branca — provocação demais, até hoje, para o racismo que vigora no país — e imitando os cacoetes da sociedade; o do samba, obedecendo à história oficial do Brasil nos seus sambas-enredo. O desejo vira uma obsessão não-correspondida e o crioulo acaba explodindo por causa de um fato qualquer: o do samba, por um tema complicado — “a atual conjuntura”; o do filme, por uma ameaça do fim do mundo. Aí o crioulo endoidou de vez. E saiu este samba. E este filme. Primeiro longa de Carlos Alberto Prates Correia, Crioulo doido já mostra três características presentes na obra do diretor: a forte presença da cultura e da paisagem de Minas Gerais — em especial as de sua região natal, Montes Claros, que muitos críticos definem como seu “universo mítico”; a subversão da linguagem comum do cinema; e o humor corrosivo, irreverente, anti-hipócrita. Crioulo doido não se passa em Montes Claros, mas na colonial Sabará. Há um fio condutor de história com ecos de seu primeiro filme, Milagre de Lourdes. O humor é mais contido, amargo, mas sem o menor respeito com as tais conveniências. Endoidemos, ora pois.

Antonio Paiva Filho

Cia. produtora: Filmes D’El Rey Ltda.

Direção e roteiro: Carlos Alberto Prates Correia

Fotografia: Thiago Veloso

Montagem: Gilberto Santeiro

Elenco: Jorge Coutinho, Selma Caronezzi, Ricardo Teixeira, Jorge Botelho, B. de Paiva, Rodolfo Arena, José Aurélio, Rogério Soares, Ezequias Marques, Ronaldo Medeiros