Portal Brasileiro de Cinema  BLÁ, BLÁ, BLÁ

BLÁ, BLÁ, BLÁ

1968 . Andrea Tonacci
São Paulo, 30 minutos, 16mm, p&b

 
 
 
 

“A pintura alegórica omite o sentido próprio do objeto, recobre o de sentido figurado e o põe para decifração.” Assim escreve o ensaísta Valdevino de Oliveira sobre a alegoria na pintura barroca. E isso não é mera coincidência no programa de construção, para não dizer de narração, de Blá, blá, blá, de Andrea Tonacci. Feito para integrar um longa-metragem, dividindo a autoria com mais dois cineastas, este média-metragem faz uma forte crítica à política daquele período de recrudescimento da censura e forte diminuição da liberdade de expressão. Num momento como esse, de choque entre o poder e a resistência, alguns filmes procuraram fazer contato com a guerrilha, recusando a passividade e o registro dramatúrgico rigoroso e comum. Quem assistir a Blá, blá, blá ou a seus parentes de gênero comprometido com a fluidez narrativa, com o jogo convencional da ação e reação, vai perder o trem das imagens. Não há concessão ao naturalismo aristotélico e nem à resignação do olhar. Como salienta o escritor Marco Antonio Bin, o período marca a “ausência de um diálogo de transição entre o poder e a sociedade, um rompimento que culminará na luta armada urbana e no fechamento total do regime político [...]. Essa terrível ruptura política é mostrada em Blá, blá, blá, que nos dá a exata dimensão das tensões vivenciadas naquele momento da nossa história, a partir de três situações características: o político e seu discurso indefinido e mimetista; a revolucionária nas águas, em seu discurso mais poético do que incendiário; o cidadão comum, à beira de um viaduto, argumentando com uma voz em off sobre a sua ambigüidade do momento: engajar-se ou não à revolução”.

Luiz Otávio de Santi

Produção, direção e roteiro: Andrea Tonacci

Fotografia: João Carlos Horta

Montagem: Geraldo Veloso

Elenco: Paulo Gracindo, Nélson Xavier, Irma Alvarez, Marcelo Pitch, Bazer, Leto, Kiko, Eduardo Mamede, Teo Feltrini