Portal Brasileiro de Cinema  PERDIDOS E MALDITOS

PERDIDOS E MALDITOS

1970 . Geraldo Veloso
Rio de Janeiro, 75 minutos, 35mm, p&b

 
 
 

Um primeiro plano, muito alongado, apresenta Almeida, jornalista policial, e Leal, o investigador corrupto, no local de um crime: será preciso abafar o caso porque o assassino é gente importante. Em outro plano, também longo e próximo do primeiro, Almeida conversa com a esposa, Gisela, depois do trabalho: ela tenciona ir ao teatro com ele e faz diversos comentários sobre a dramaturgia contemporânea, que lhe parece irracionalista, alienada... cita Lukács com a mesma propriedade com que folheia as páginas de uma revista. Almeida, entretanto, quer sexo, e trata de agarrá-la na sala, na frente da empregada. A lógica expressiva de Geraldo Veloso em Perdidos e malditos é a dissecação da vida social burguesa, continuamente moldada por poses mais do que gestos, e a instauração de um plano existencial para além da vida ordinária, no qual o que conta não é uma reputação, mas as contínuas experiências que à sociedade repugnam: amor livre, drogas, feitiçaria, escatologia... No plano formal, a lógica do filme é a dilatação do tempo. Dominado quase que exclusivamente por planos longos, Perdidos e malditos faz do tempo matéria-prima para denotar tanto o ócio cotidiano como a indefinição existencial dos personagens: perdidos e malditos, os indivíduos filmados por Geraldo Veloso não existem politicamente, sociologicamente (como se faria no Cinema Novo), mas antes por sua afirmação própria como indivíduos, ontologicamente, e irredutíveis a qualquer totalidade repressiva (Estado, casamento, trabalho...).

Ruy Gardnier

Cia. produtora: Geraldo Veloso Produções Cinematográficas

Produção executiva: Geraldo Veloso e Maria Elizabeth Pereira

Direção, roteiro e montagem: Geraldo Veloso

Fotografia: João Carlos Horta e Antonio Penido

Elenco: Paulo Villaça, Maria Esmeralda, Carlos Figueiredo da Silva, Billy Davis, Marcelo França, Dina Sfat, Célia Messias, Selma Caronezzi, Geraldo Veloso