GÊMEAS

Andrucha Waddington
RIO DE JANEIRO, 1999, COR, 35 MM., 75 MIN.

 

"O que elas procuram não aparece." Sob essa frase da mãe moribunda desenrola-se a adaptação de Andrucha Waddington do texto de Nelson Rodrigues.

As irmãs gêmeas Marilena, bióloga, e Iara, costureira, vivem armando farsas com seus amantes, até a hora em que Iara se apaixona por Osmar. A partir desse momento, percebemos que algo mais estava em jogo quando uma se fazia passar pela outra. Essa confusão ocorre logo no início, e dá um ar de mistério à relação das duas, personificado pela figura do pai, dr. Jorge, que parece zelar pelo segredo. Temos uma insinuação quando, numa cena que não poderia ser mais direta, Iara observa no microscópio uma célula se transformar em duas e fica atônita como se tivesse feito a grande descoberta de sua vida. Por trás da disputa das gêmeas por Osmar, há uma necessidade de sobrevivência, e o equilíbrio parece só existir no triângulo amoroso. O que se faz por uma é o que se deixa de fazer pela outra, diz o dr. Jorge a Osmar.

Estão dados os elementos que permitem a elaboração de uma tragédia, e justificado o tom gótico que tentar extrair mistério de tudo. Elaboração que aposta no clima obscuro da fotografia. Baseada num conto curto de Nelson, a trama parece não ter fôlego para se tornar um longa. Algumas cenas dão a impressão de terem sido esticadas para aumentar a duração do filme, como a do enterro da mãe, durante o qual, embalados pelo famoso e já melhor utilizado adágio de Albinoni, ficamos passeando pelo cemitério e uma câmera elevada pela grua nos mostra o Corcovado, num estranho tom azulado.

Há várias referências à obra de Nelson, como os dois gatinhos dados por Osmar às irmãs ("dois gatinhos para duas gatinhas"), e o vestido de noiva de Marilena, que Iara pede para confeccionar, no que poderia ser uma necessidade simbólica de participar do casamento.

 

Na trama, observarmos um jogo de espelhos, em que se baseia a relação de dependência das duas irmãs. Não é à toa o recurso à confusão (quem realmente está agora com Osmar?), nem o convite de Marilena para que Iara vá morar com eles após o casamento. Resta salientar que o filme, realizado no período confusamente nomeado de "retomada" do cinema brasileiro, tenta se inserir num panorama audiovisual moderno. Daí talvez a estranheza de algumas insistências estéticas.

Alessandro Gamo

PRODUTORA: Conspiração Filmes

PRODUÇÃO: Flávio Tambellini, Leonardo M. de Barros, Pedro Buarque de Hollanda

ROTEIRO: Elena Soarez (baseado em conto homônimo de Nelson Rodrigues)

FOTOGRAFIA: Breno Silveira

MONTAGEM: Sergio Mekler

MÚSICA: Michelle Dibucci

ELENCO: Fernanda Torres, Evandro Mesquita, Francisco Cuoco, Matheus Nachtergaele, Fernanda Montenegro