Portal Brasileiro de Cinema / Godard APRESENTAÇÃO   ENSAIOS    FILMOGRAFIA COMENTADA    FILMOGRAFIA    FICHA TÉCNICA    PROGRAMAÇÃO    CONTATO

APRESENTAÇÃO


ENSAIOS


FILMOGRAFIA COMENTADA

Anos 1950

Anos 1960

Anos 1970

Anos 1980

Anos 1990

Anos 2000

Anos 2010


FILMOGRAFIA


SOBRE OS AUTORES


FICHA TÉCNICA


PROGRAMAÇÃO


COBERTURA DA IMPRENSA


CONTATO


Le rapport Darty – (O relatório Darty)

França, 1988-89, cor, vídeo, 50 min



Filme de encomenda que saiu pela culatra, Le rapport Darty funciona como um anti-institucional, um filme indesejável para os que o haviam desejado. Ensaio crítico e poderoso sobre o consumo, revela também a difícil relação entre realizadores e o objeto representado em obras feitas em regime de adversidade.

Com seu vasto arsenal de eletrodomésticos de última geração, a rede de lojas Darty era, na França dos anos 1980, um pequeno paraíso do consumo que equipava grande parte dos lares franceses. As finanças do grupo iam de vento em popa quando os acionistas decidiram contratar Jean-Luc Godard para fazer um filme sobre o próprio negócio. “Eles nos disseram: ‘Nós estamos ganhando muito dinheiro, tudo está indo bem demais, estamos perdendo a cabeça. Vocês poderiam nos dizer onde estamos e quem somos?’. Nós respondemos: ‘Claro. Vocês nos dão dois milhões e nós lhes fazemos um filme de uma hora’. Foi o que fizemos”, explicou Godard em entrevista à revista Paris Première em 1997.

Dirigido em parceria com Anne-Marie Miéville (cuja voz interpreta o papel de Mademoiselle Clio, narradora do filme ao lado do velho robô Natanael, interpretado por Godard), o filme foi naturalmente rejeitado pelo contratante. Longe de servir como peça publicitária como estranhamente esperavam os clientes, o média-metragem se tornou um instrumento de contrapropaganda investido de forte discurso ensaístico para, num procedimento de desmascaramento ideológico, escancarar os fundamentos perversos da economia e da sociedade do consumo, recorrendo para isso a excertos de pensadores dedicados a essas questões.

Com estrutura de montagem semelhante às Histoire(s) du cinémacinema (1988-1998), o filme encadeia reflexões a partir de colagens e repetições de imagens livremente associadas a falas e letreiros que flertam com axiomas. Enquanto as lojas Darty se tornam uma espécie de pano de fundo para a observação de comportamentos e ideais definidos pela cadeia produtiva e consumidora, o filme evolui como um institucional às avessas – porém tão afastado do objeto de seu rapport quanto o seria um vídeo institucional clássico.

Isso porque Godard e Miéville parecem cultivar uma espécie de “distância de segurança” da área filmada, claramente identificada como território inimigo. As imagens raramente se restringem à imanência da cena: são fragmentos interrompidos que impedem a emergência de interações ou subjetivações capazes de ameaçar o lugar dos cineastas de sujeitos do conhecimento e organizadores do discurso.

Quando, em seus conhecidos escritos sobre o inimigo, Jean-Louis Comolli fala de um movimento pendular que oscila entre o “combate” e a “compreensão”, de um gesto que pode variar da “hostilidade” à “complacência” para com os sujeitos filmados, ele se refere justamente a um tipo de risco que parece ter sido evitado por Miéville e Godard: a Darty e seus integrantes figuram menos como sujeitos de interlocução e mais como objetos da fabulação dos cineastas. O risco é contornado de forma consciente e nada indulgente. O filme não se furta à sua própria crítica, mas proclama o direito e mesmo o dever de dizer o que diz. A pobre Mauricette se torna uma vítima indefesa do “diabólico e impiedoso príncipe da venda”. O direito e mesmo o dever de defendê-la, afirmam os cineastas, vem das imagens, do verdadeiro cinema.

Marcelo Pedroso



Produção

Apoio

Correalização

Copatrocínio

Realização


Sugestão de Hotel em São Paulo, VEJA AQUI. Agradecimentos ao Ibis Hotels.


É expressamente proibida a utilização comercial ou não das imagens aqui disponibilizadas sem a autorização dos detentores de direito de imagem, sob as penalidades da lei. Essas imagens são provenientes do livro-catálogo "Godard inteiro ou o mundo em pedaços" e tem como detentoras s seguintes produtoras/ distribuidoras/ instituições: La Cinémathèque Francaise, Films de la Pléiade, Gaumont, Imovision, Latinstock, Marithé + Francois Girbaud, Magnum, Peripheria, Scala e Tamasa. A organização da mostra lamenta profundamente se, apesar de nossos esforços, porventura houver omissões à listagem anterior.
Comprometemo-nos a repara tais incidentes.

© 2015 HECO PRODUÇÕES
Todos os direitos reservados.

pratza