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Moments choisis des Histoire(s) du cinéma (Momentos escolhidos de História(s) do cinema)

França, 2004, cor, vídeo telecinado para 35 mm, 84’



Versão em longa-metragem da série Histoire(s) du cinéma, originalmente concebida em oito episódios. O filme traz uma seleção pessoal de Godard de alguns dos momentos mais marcantes de cada episódio.

Desde que Godard terminou suas Histoire(s) du cinéma e estas começaram a circular mais intensamente (na televisão, em DVD etc.), o impacto sobre o público e as repercussões junto à comunidade intelectual foram tamanhos que a Gaumont, financiadora do projeto, começou a pensar em formas adicionais de exploração comercial da obra. Algumas dessas repaginações das Histoire(s) beiram a nulidade, como a publicação da narração de Godard em forma de texto escrito, em livros ilustrados e de capa dura – o que desmobiliza uma das grandes virtudes das Histoire(s), que era justamente a de ser uma história do cinema construída com os próprios materiais do cinema, ou seja, imagens e sons combinados numa experiência irrecusavelmente ligada à forma temporal da narrativa fílmica.

Outras iniciativas da Gaumont, entretanto, justificam-se, como é o caso de Moments choisis des Histoire(s) du cinéma, versão resumida em longa-metragem da série originalmente composta por oito episódios. A estrutura de Moments choisis é bastante simples: Godard atendeu à encomenda da Gaumont selecionando mais ou menos dez minutos de cada episódio e distribuindo o conteúdo de maneira linear e igualitária. O resultado reside em cerca de oitenta minutos de projeção que refazem o trajeto das Histoire(s) seguindo a ordem preestabelecida dos episódios, do 1a (“Toutes les histoires”) ao 4b (“Les signes parmi nous”). Essa simplicidade estrutural favorece a apreensão do pensamento que rege as Histoire(s): certos raciocínios rebuscados ressurgem à luz da concisão e adquirem clareza e retidão outrora inalcançáveis; certas ideias que ficavam dispersas na avalanche audiovisual da série não precisam mais disputar espaço com ideias concorrentes. É assim que vemos Godard, a partir de um aforismo sobre as figuras femininas dos quadros de Manet, situar o nascimento do cinematógrafo na esteira da pintura moderna, da qual teriam emergido “formas que caminham em direção à palavra”, ou, como se afirma em seguida, “uma forma que pensa”. Ora, essa ideia de “uma forma que pensa” é precisamente o que as Histoire(s) procuram levar ao paroxismo, desbravando todas as possibilidades contidas na convicção de que o cinema é uma forma de conhecimento do mundo. Da experiência de assistir a Moments choisis, desponta – com contornos mais nítidos que anteriormente – essa ideia de fundo que perpassa todos os episódios de Histoire(s): é possível pensar a História por meio de “momentos escolhidos” de cinema, de pedaços de filmes que restituem a memória coletiva do século passado e a erigem como monumento e fantasma, elegia e assombração. Cada imagem escolhida por Godard é um fragmento de um discurso sobre essa nova forma de pensar o mundo que, se não nasceu com o cinema, foi por ele modelada e consagrada.

Godard valoriza o aspecto intimista de sua visão da história do cinema. Nos momentos em que aparece na penumbra de seu escritório, batendo textos à máquina, em meio a pilhas de fitas de videocassete, ele posa de São Jeronimo, atormentado por tudo o que viu, por todas as imagens que testemunhou, e as quais agora tenta compilar, repetir, cruzar, como se houvesse entre elas um universo de raccords secretos (por exemplo: entre os ataques de Os pássaros e os bombardeios aéreos na Segunda Guerra), de olhares trocados entre personagens de filmes distintos, ou entre a figura de um quadro e a personagem de um filme.

O sopro de inventividade que atravessa as Histoire(s) mantém sua força em Moments choisis, não se perde num mero trabalho de resumo. Não dá para dizer que Godard necessariamente selecionou o que considera o mais essencial e importante da série. Critérios de ritmo, plasticidade, musicalidade e organicidade interna podem ter imperado em determinados momentos. Mas, no geral, acreditamos que a maior parte do conteúdo de Moments choisis represente, sim, aquilo que Godard, já com a distância de alguns anos, considerou o mais relevante de Histoire(s), ou pelo menos aquilo que gostaria de sublinhar. Nesse sentido, não podemos negligenciar a substancial mudança de tom em relação à série: se esta era marcada por uma visão catastrófica e fúnebre, pelo sentimento de fim, de adeus a um certo cinema, ou a uma certa ideia de cinema (o cinema como projeção do mundo e como restituição ontológica do tempo vivido), Moments choisis prefere assumir um tom mais leve e luminoso, em contraste com a atmosfera apocalíptica e tenebrosa da série. Isso ocorre, em parte, porque o discurso sobre a morte do cinema já se havia esgotado no final da década de 1990 e precisava dar lugar a outra coisa. O foco passa a ser o poder do cinema, a transformação profunda que ele desencadeou na história das imagens. Assim, o que fica de Moments choisis é menos um canto melancólico do que uma ode ao cinema como grande força imagística do século XX.

Luiz Carlos Oliveira Jr.



Produção

Apoio

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Copatrocínio

Realização


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