Portal Brasileiro de Cinema  Meu nome é Tonho

Meu nome é Tonho

 
Cidinha, Nenê e Ozualdo. Embaixo, a babá Izolina.

O Augusto Sobrado tinha deixado de ser sócio do Mojica naquele momento, e ele deu a idéia de que eu fizesse um bangue-bangue italiano. Então resolvi escrever Meu nome é Tonho. Dei uma italianada no roteiro, o Sobrado foi lá e arrumou o dinheiro. A fita não parece nada comigo. No início como não havia dinheiro para fazer, arrumei todos os atores principais meio pelo meu prestígio e ficamos lá em Vargem Grande do Sul sem comer direito. O pessoal agüentou porque quase todo o elenco era da escolinha do Mojica.

Eu fiz o filme com este cara, o Augusto Sobrado, que pediu um dinheiro emprestado, tinha um sócio no Rio, um bocado de coisas assim. Eu me vi na obrigação de tentar fazer uma coisa, de pelo menos voltar o dinheiro. Não ia fazer o tipo de coisa que eu faço mais ou menos quando estou sozinho. Então fiz o bangue-bangue cabloco brasileiro, o vagabundo a cavalo brasileiro, coisas que eu conheço mais ou menos. Muita gente achou parecido com Guimarães Rosa, muita gente achava isso, mas isso porque eu tinha lido muito, andei muito a cavalo, conheci muito vagabundo, tudo isso e muita história que existia aí, lá pelas décadas de 20, 30.

Meu nome é Tonho foi filmado em Vargem Grande do Sul, onde foi feito O cangaceiro. A fita tem toda uma maneira, aquelas cavalgadas, que talvez no cinema brasileiro não tenha em nenhum outro filme, nem O cangaceiro. Vestidos daquele jeito, com aquele tipo de regionalidade, apanhando, batendo e dando tiro. Acho que eu consegui tirar partido de tudo isso.

O filme era para ser violento mesmo, esculachado. É assim a maneira como eu vejo as coisas. Aquele negócio da moça que saiu, o cara chega na zona, come a irmã e fica puto da vida, mata lá todo mundo. Contei isso porque eu acho que era chocante, e se isso não aconteceu, se acontecesse teria que ser assim.

A fita propõe comportamentos todos de desajustados e não tem nada conservador. O cara morre, mas não é por isso que ele está chorando. O outro mata rindo, e vai daí afora, uns troços tudo desse jeito. E mata, arrasta, faz não sei o que lá mais. Os caras são todos assim, toda bandidagem tem um quê de herói.

Ela foi um puta sucesso no Brasil inteiro, uns dos grandes sucessos de bilheteria e até de crítica da minha carreira.

O pessoal do cineclube de Marília, num festival organizado por eles, implicou com Meu nome é Tonho. Aí o Almeida Salles, que era do júri, deu uma bronca neles e obrigou os caras a dar um prêmio para a fita. O prêmio Governador do Estado de São Paulo também ganhei por causa do Almeida Salles, ele gostava muito da fita, o negócio dele era aquele chapéu, aquele lenção.

A fita simplesmente não é Antonioni ou sei lá o que. Ela é independente, funciona por ela mesma, não tem nada a ver com bangue-bangue americano. Claro que tem gente em cima do cavalo e a linguagem é meio essa que está aí. Escapar dessa linguagem de cinema é difícil, todo mundo faz mais ou menos a mesma coisa.