O vigilante

Inventei uma história, escrevi essa história e mandei para a Embrafilme. O projeto foi selecionado e deu no que deu. Fechou a Embra, eles me pagaram 2 mil de multa do contrato e os 51 por cento deles ficou por isso mesmo, acabou. Eu fiquei com a minha parte, e tinha 40 mil que era do Governo do Estado. Não pude devolver. Como é que eu vou com 40 mil fazer um filme, barbaridade! Então eu fui nas escolinhas, que eu conhecia uns caras. Tinha uma delas que eu tinha ido falar sobre cinema. Vi uns caras e sondei se eles estavam a fim de uma experiência, a experiência seria o pagamento deles e o pessoal topou. Tinha um problema: todos trabalhavam, então só podia filmar sábado e domingo. Então consegui organizar esses caras e calculei o dinheiro que eu tinha, dava para eu fazer sábado e domingo, roupa não tinha muito problema, ia levar pelo menos um ano para trabalhar nessa fita, se o pessoal agüentasse. Quando eu falo com esse pessoal que nunca fez nada, eu preciso ter uma idéia se eles têm condição psicológica e a vontade para agüentar essas amolações desses filmes.

 
Ozualdo ensaiando atores e cavalos.

Tem umas coisa que muita gente nem atina. Por exemplo, em O vigilante tem cinco favelas ali, não é só uma não, aquilo está filmado em cinco ou seis favelas. Olha, eu fiz duas favelas lá pro lado de Arujá, fiz em Guarulhos umas duas ou três, e fiz duas em São Paulo, uma delas é Barueri, e ninguém acha que tem cinco favelas ali, umas cinco ou seis, eu nem contei.

A decadência, eu não tenho nada com ela, ela está aí pra ser fotografada, para ser filmada, par ser cantada em samba, sei lá mais o que. Sempre faço filmes com certa crítica social e a decadência dessas pessoas, como em O vigilante. Isso é exatamente o resultado da incompetência dos administradores, por exemplo, do dinheiro brasileiro. Então esse desequilíbrio gera essas coisas todas e as pessoas se viram como podem, não sou eu que invento ou gosto da decadência.

No final do filme, eu não podia tomar uma atitude e eu não quis tomar. Eu podia fazer o seguinte: matar o vigilante ou dizer para ele ir embora. O que não está lá muito correto socialmente, essa coisa toda. Então arrumei uma solução meio confusa: a briga ficou lá dentro, você não viu ninguém morrendo nem nada naquele puta estouro, e o diretor puxou o carro.