Bíbi Voguel

 
Bíbi Voguel em Meu nome é Tonho.

De todas as experiências como atriz de cinema, sem dúvida a que mais me marcou foi ser dirigida pelo Candeias. Lembro-me de ter comentado com minhas amigas, quando recebi o convite: “Com ele eu pago para trabalhar!”.

Estava no auge da minha experiência como manequim fotográfico, exclusiva da Editora Abril, e o personagem que o Candeias me oferecia era radicalmente oposto a essa minha imagem glamourosa. Isso me fascinava.

Vivi aquelas filmagens como uma grande aventura. As locações eram em uma pequena cidade, Vargem Grande do Sul, em São Paulo. Repartia meu tempo entre as filmagens e o trabalho fotográfico em São Paulo.

Candeias era pouco em palavras. Ao final de cada dia, pedia a ele indicações sobre minhas próximas cenas. Sua resposta quase sempre era muito vaga, poucas vezes atendia às minhas expectativas. No começo, lembro que me sentia um pouco frustrada com esse método de trabalho. Mas, fui percebendo que ele ia reconstituindo o filme minuto a minuto. Logo me adaptei.

A produção tinha um orçamento paupérrimo. Por exemplo, o protagonista Tonho, até determinada cena, sempre aparecia montando um belo cavalo branco, os outros personagens tinham uns pobres pangarés. Mas, de repente, Tonho é levado a se desfazer do animal. Razão real: houve um problema insolúvel com o aluguel desse cavalo e Candeias, para contornar a situação rapidamente, foi obrigado a criar uma cena que justificasse a ausência do animal. Também em relação à produção, a camisa rasgada que vesti em algumas cenas era a mesma camisa nova que a Karen já havia vestido.

Durante o período de filmagens, numa das minhas idas e vindas a São Paulo, sofri um grave acidente na estrada. Entre outras contusões, fiz um corte na testa, onde levei mais de 25 pontos. Mesmo assim, tempos depois, pude voltar a filmar, tendo o extremo cuidado de disfarçar a cicatriz. Hoje, acho que Candeias, talvez, já estivesse pensando em criar uma cena que justificasse meu afastamento. Que bom que ele confiou e me esperou!

Ganhei com esse filme o prêmio de cinema Governador do Estado, como atriz-revelação. Passados 32 anos, fico feliz de poder agradecer ao Candeias, nestas poucas linhas, a oportunidade de ter trabalhado a seu lado.