LADY VASELINA

Ficção, 1990, Cor, 15 min

assista a um trecho
 

Adaptação da obra de Tennessee Williams. Prostituta e escritor decadentes entram em conflito com a senhoria do lugar onde vivem.

O vídeo não era novo para ele, que já tinha feito nesse formato O desconhecido. Mas há algo tão drasticamente novo em Lady Vaselina, que parece que Candeias realmente mexia com o equipamento de vídeo pela primeiríssima vez. A questão, aqui, não é tanto o ineditismo como o impulso: tal qual criança testando as possibilidades de seu novo brinquedo, o diretor utiliza de maneira selvagem e experimental os recursos do vídeo para, com um mínimo, extrair o máximo.

Três atores, um texto adaptado de Tennessee Williams, um estúdio seco, sem cenografia, sem nada. Como sempre, Candeias entrega-se a si próprio a partir das condições de produção, das limitações formais da obra: o filme é todo em closes, com uma câmera registrando as mudanças de intriga somente a partir de leves e ondulados movimentos da máquina e da utilização expressiva do foco.

 

Como no teatro, onde uma cortina estabelece o começo e o fim do espetáculo, há um demarcador de começo e fim. Um borrão inicial vai ganhando definição até que o foco se ajusta e vemos uma senhora pintada, de aspecto um pouco decadente: é a tal Lady Vaselina, de quem a senhoria vem cobrar os honorários atrasados. O teor marcadamente literário do texto combina com a interpretação bastante teatral dos atores, que pronunciam suas falas de modo declamatório. Risco de submeter o cinema ao teatro e de fugir da confrontação com a fragilidade do texto através de uma imponência monumental? Em se tratando de Candeias, jamais. O jogo de câmera e a exímia estratégia de composição de planos (Lady Vaselina sempre em primeiro plano, na metade esquerda da tela, e seus interlocutores mais longe, sem jamais trocar nenhum olhar) fazem desta pequena peça um exercício dos mais estimulantes para o espectador de cinema.

Ruy Gardnier

Direção e roteiro: Ozualdo R. Candeias.

Produção: Eduardo Borges e Maria Lúcia Oliveira.

Cia. produtora: Multimeios.

Elenco: Maria Lúcia Candeias, Roberto Brant e Vilma Ferreira