Portal Brasileiro de Cinema  CASAS ANDRÉ LUIZ

CASAS ANDRÉ LUIZ

Não-ficção, 1967, 35 mm, P&B, 10 min

 

 

Documentário institucional sobre as atividades beneficentes das Casas André Luiz.

 

Para um documentário sobre uma instituição assistencialista, a sucessão de imagens que vemos busca algo mais. O estranhamento já é notado na primeira cena, quando, em clima de tristeza e aparente apreensão, a Kombi das Casas André Luiz aparece para buscar uma criança. Impressão que continua no semblante da mãe da criança após entregar o filho para a funcionária. Parece não haver outra alternativa. Algo está por vir.

Nos poucos minutos do filme, Candeias produz um choque entre a propagada intenção de ajuda e o cerceamento da liberdade existente entre as paredes das Casas. Uma funcionária “solta” as crianças para brincar num pátio cercado – na imagem, elas brincam de roda com a presença de grades e muros. Outras, ficam sentadas nos cantos do pátio ou se arrastando pelo chão, mostrando-nos cenas mais próximas de uma casa de correção, e não de um local onde as diretrizes são o amor e o carinho, lembrados pelo narrador.

Esse tipo de construção da imagem com a banda sonora, que por vezes transita nos limites da ironia – e será aprofundada nas obras seguintes de Candeias –, pode ser notada nas cenas do coro de crianças cantando os aspectos positivos das Casas André Luiz. Há uma sensação de manipulação e perda da inocência, que lembra o uso da canção “Se esta rua fosse minha” feito por Candeias nos letreiros finais de O vigilante. No trabalho com a câmera vemos aproximações, movimentos e ângulos pouco usuais, e chicote, que marcam também os documentários e as ficções de Candeias.

O filme ficou censurado por mais de quinze anos e depois foi liberado para maiores de dezoito. Por trás disso, há muito do receio de encarar as imagens de crianças excepcionais, de insinuações sobre a forma como é utilizado o dinheiro arrecadado pela instituição e da idéia de cárcere, dados os altos muros e as grades das Casas. Para além de tudo isso – e temos aqui um tema caro a Candeias –, nos deparamos com a total falta de opção daquelas pessoas.

Alessandro Gamo

Direção: Ozualdo R. Candeias.

Fotografia: Eliseo Fernandes.

Montagem: Luiz Elias.

Música: Coral das Meninas das Casas André Luiz.

Produção: Virgílio T. Nascimento.

Cia. produtora: Virgílio T. Nascimento Produções Cinematográficas.