Portal Brasileiro de Cinema  AS BELLAS DA BILLINGS

AS BELLAS DA BILLINGS

Ficção, 1987, 35 mm, Cor, 90 min

 
 

 

 

 

 

A vida de profissionais marginalizados que perambulam pelas ruas de São Paulo. O personagem principal é um cantor de música sertaneja em início de carreira, que se envolve com um rapaz pre-tensamente intelectualizado, cuja família é extremamente problemática.

Perambulações e lixo marcam este filme do começo ao fim. O lixo produzido pela parte rica da cidade serve como fonte de objetos pessoais e de comida para os esquecidos da sociedade. Lixeiros fazem a coleta na região do Morumbi, chegam ao centro de São Paulo e em plena rua do Triunfo – antiga Boca do Lixo de Cinema – um deles vende uma bolsa para Jaime (Carlos Ribeiro). Passamos a acompanhar as andanças desse personagem, que caminha carregando livros de Bukowski, Platão e Paulo Emílio Salles Gomes, e seus encontros pela cidade à procura das irmãs. No largo do Paissandú conhece um violeiro (Almir Sater), que o acompa-nhará nessas andanças. É ajudado pelo personagem de Mário Bevenutti, que se diz namorado de uma das irmãs, e que Jaime trata por Lanceiro, mas que insiste em ser chamado de Belfiore – num falso tom italiano presente também na ironia de bellas do título. Encontram a mãe de Jaime e as duas irmãs dele – Verônica (Silvia Gles) e Aspásia (Claudete Joubert) – morando em uma casa próxima à represa de Guarapiranga. A mãe e Verônica vivem a coletar restos de comida de restau-rantes da cidade, um lixo/comida que serve tanto para a família como para alimentar as galinhas.

 

A maneira como Candeias representa a relação dos personagens com essa comida cria num primeiro momento um choque que, pela recorrência com que é mostrada, parece buscar no espectador uma superação da abjeção inicial, sugerindo que aquilo que para alguns é lixo compõe o cotidiano de outras pessoas.

Diversos personagens “marginais” vão povoar as andanças de Jaime pelo centro de São Paulo. Marginais que o diretor prefere apresentar como “profissionais liberais”, que vivem de “‘expe-dientes” e pequenos golpes.

Na construção da narrativa do filme, Candeias utiliza diversos “comentários” sonoros, compondo um experimentalismo que já vinha sendo trabalhado pelo cineasta em suas fitas. São ruídos, como sons de buzinas, e músicas, como quando aparece um personagem carregando um pedinte aleija-do e ouvimos cantarem: “quem cuida da vida alheia da sua não pode cuidar”. Ou quando Belfiore vai para sua “mansão” – um prédio que ele “aluga” como cortiço - e escutamos um trecho de “Saudosa maloca”.

As bellas da Billings apresenta um diálogo nostálgico do cineasta Candeias com a região da Boca do Lixo. Numa cena, Jaime e o personagem de Sater – em seu primeiro papel como ator – estão andando pela rua do Triunfo e param na porta do Bar Soberano – que era ponto de encontro de cineastas e técnicos de cinema no período áureo da Boca. Lá estão Carlos Reichenbach, Jairo Ferreira, Ody Fraga e o próprio Candeias, conversando e olhando fotos nas quais aparecem cineastas que passaram pela Boca nos anos 70. Da banda sonora vem a música do filme A margem, e por fim Jaime sentencia para seu parceiro: “Ah, mas a Boca não é mais aquela!”. Que pena…

Alessandro Gamo

Direção, roteiro, fotografia, montagem e produção:Ozualdo R. Candeias.

Música: Almir Sater.

Cia. produtora: Candeias Produções Cinematográficas, Secretaria de Estado da Cultura do Governo de São Paulo e Embrafilme.

Elenco: Carlos Ribeiro, Almir Sater, Mário Benvenutti, José Mojica Marins, Claudette Joubert e Silvia Gles.