Portal Brasileiro de Cinema  CAÇADA SANGRENTA

CAÇADA SANGRENTA

Ficção, 1974, 35 mm, Cor, 90 min

 
 

 

 

Homem ligado ao submundo rouba alguns dólares do cofre de uma conhecida sua e foge. Ela, envolvida com prostituição, é assassinada e o homem torna-se o maior suspeito, sendo perseguido por um policial pelo interior do Mato Grosso.

Nem sempre se tem lembrado de mencionar e comentar Caçada sangrenta quando se traça a linha evolutiva dos filmes de Candeias. Alguns dirão se tratar de um filme de produtor, em que o diretor foi contratado a posteriori. Há que se lembrar, porém, que David Cardoso teve o mérito de uma escolha bastante acertada: em outras mãos, talvez fosse um thriller tropical dos mais ordinários, o que com certeza não é o caso. Há algum tempo falava-se em não-hierarquia dos gêneros, e creio ser necessário voltar a esse termo para ver Caçada como se deve. Entre os filmes de Candeias, este parece ser o mais difícil de apreciar, porque é preciso buscar uma liberdade total, ter certa inocência no olhar. Encomenda ou não, o importante é que Candeias faz sempre o seu cinema; aqui, o maior risco da criação está em buscar desarticular algumas das relações habituais do espectador diante de um filme – que dirá nacional. É notável a maneira como se investe livremente num gênero bastante explorado pelo cinema brasileiro, mas quase sempre de forma pouco original e um tanto duvidosa. Muito já se falou sobre a câmera como sendo um lápis na mão do diretor, e é o que se pode imaginar ao ver Caçada: a descontinuidade das imagens, a absoluta liberdade antinarrativa, o ritmo na cena e não no roteiro, e até mesmo a imensa relatividade dramática, tudo contribui para este filme espontâneo, um tanto imperfeito e, por isso, ainda mais belo.

 

Por outro lado, criou-se a lenda de que o cinema brasileiro da época (ou boa parte dele) só investia na fórmula “sexo & violência” e, talvez por isso, uma cortina de silêncio tenha encoberto muitas fitas bacanas, entre elas, Caçada. Em essência, nenhuma das perseguições, brigas e nudez do filme têm muita relevância ou conseqüência – vide o final aberto. Nada desprezível, porém, é a maneira como se subverte as expectativas de uma intelligentsia que espera por filmes sérios, graves e convencionais; do chamariz sexual à propaganda escancarada, passando por toda uma gama de vulgaridades deliberadas, Candeias parece impor como regra uma quase-displicência geral. Sub-repticiamente, no entanto, há algo de genial, que consiste em destilar criticamente os clichês típicos daquele cinema que alguns acreditam ser o pior cinema do mundo, isto é, o cinema brasileiro. Lembremos, por exemplo, do cinejornal oficioso dentro de Caçada: qual espectador não entenderá a cena como contra-manifesto e comentário ao governante arrivista que, justamente, estaria sendo incensado? É de pequenos achados como esse que se fazum filme como Caçada sangrenta.

Juliano Tosi

Direção e roteiro: Ozualdo R. Candeias.

Fotografia: Virgílio Roveda.

Montagem: Luiz Elias.

Música: Ronaldo Larck.

Produção: David Cardoso, José Eduardo Rolim e Gilberto Adrien.

Cia. produtora: Dacar Produções Cinematográficas.

Elenco: David Cardoso, Marlene França, Walter Portella, Fátima Antunes, Heitor Gaiotti, Carmen Angélica, Leon Cakoff, Renato Petri, Evelize Oliver e Munir Razuk.