Portal Brasileiro de Cinema  CINEMATECA BRASILEIRA

CINEMATECA BRASILEIRA

Não-ficção, 1993, Cor, 13 min

assista a um trecho
 

Documentário sobre as atividades da Cinemateca Brasileira.

Trata-se de um vídeo que acompanha o início da transferência da Cinemateca Brasileira para a sede atual. Aqui, as regras são as do filme institucional, mas nada consegue impedir Candeias de filmar como sempre filmou, isto é, como quer. Não por acaso, o vídeo começa “à margem”, numa beira de estrada – uma das imagens recorrentes em suas fitas, quase sempre como signo de certo malestar, um não-pertencer, um eterno procurar a si mesmo. E não é outra coisa que o texto, bem mais objetivamente, nos revela: fala de uma Cinemateca Brasileira ainda dividida por diferentes locais, assim como já esteve em inúmeros outros, sempre de maneira provisória e em depósitos muito longe do ideal e necessário. Para além de mera ilustração do texto narrado, o olhar de Candeias, em essência pouco afeito à verbalização (videos raros diálogos de seus filmes), dá às palavras novos significados, por vezes quase abstratos, mas sempre belos para os que sabem ver com curiosidade e os olhos livres. Candeias possui clara visão de mundo e de cinema e as imagens de beira de estrada são muito mais do que um cacoete visual, assim como o uso aparentemente arbitrário da grande-angular em certos momentos: trata-se aqui de deformar o olhar, de produzir outra coisa, de ver-dizer de outra maneira. O grande mérito do filme talvez esteja justamente em fugir da armadilha fácil do conformismo oficialesco e confortador, e das soluções parciais que poderiam representar a transferência da Cinemateca para uma sede definitiva. Muito já se falou sobre a necessidade de um arquivo de imagens animadas; tudo se passa como se houvesse uma unanimidade muda que, no entanto, pouco ou nada resolve.

 

Enfim, Cinemateca Brasileira fala principalmente ao leigo: o que é uma cinemateca? a que nosserve? O espectador que tire suas conclusões, mas vale perguntar: estamos culturalmente preparados para ter uma cinematografia e para bem-manter um verdadeiro arquivo de filmes? (estávamos,é bom lembrar, no imediato pós-Collor e ainda sob os efeitos do baque cinematográfico). Nesse sentido, talvez o momento mais precioso do vídeo seja quando, sobre certa imagem de latas de filme empilhadas, diz a locução: “Balançando assim, filme brasileiro, com certeza!”. (Balança, mas não cai, graças ao diletantismo e à determinação de todos que teimam em manter de pé esta arte bastante instável que é o cinema brasileiro.)

Em tempo: o arquivo da Cinemateca Brasileira, maior e mais antigo do país, guarda, entre outros muitos tesouros, cópias e matrizes de quase todos os filmes de Candeias, de A margem até O vigilante.

Juliano Tosi

Direção, roteiro e fotografia: Ozualdo R. Candeias.

Edição: José Motta e Ozualdo R. Candeias.

Cia. produtora: Cinemateca Brasileira.

Locução: Carlos Roberto