Portal Brasileiro de Cinema  Zézero e O Candinho

Zézero e O Candinho

Agora Zézero e O Candinho eu fiz com uma máquina nas costas e um jipe, que eu tinha um jipe nessa época. Esses filmes eu chamei de subterrâneos, nem mandei para a censura senão estaria fodido, talvez nem tivesse aqui.

O Zézero tinha a seguinte motivação: quando criaram a loteca, achei que era uma safadeza, o cara ao invés de comer a marmita, o ovo, o feijão com arroz, vai jogar na loteca. Achei isso mau. O governo abusa da ignorância dos outros, cuja ignorância já é da responsabilidade dele, vai por aí afora. Acontece que o Estado abstratamente e concretamente é o responsável por essas coisas todas.

No Candinho tem o poder que é o fazendeiro e a religião que é aquele falso - Cristo que ajuda a explorar todas as pessoas e eles estão mais ou menos unidos. O Candinho tem a cabeça cheia dessas coisas, se tornou um cara imbecilizado. O dia que ele toma consciência ele deixa de ser imbecil. É o Llorente que faz esse papel, tá bem pra caramba o rapaz. Eu fui quase preso na rua por causa do personagem dele, o policial olhou assim: “Como você faz um negócio, você filma um negócio desse?”. Eu respondi: “É publicidade”. “Que publicidade você está fazendo com um cara desses?.” “O povo precisa de cachaça agora.” “Cachaça? Você vai vender?.” Eu falei: “O caso é o seguinte. Tem o roteiro aqui, que diz: ‘cuidado, não tome qualquer cachaça se não você vai ficar desse jeito’”. E os caras deram uma risadinha. No Zézero em frente à Sorocabana fui em cana também.

As fitas passaram a ser requisitadas por estudantes, inclusive os da USP. O Paulo Emílio passou uma delas. Mas quando era pra passar na Geografia, não passou porque o pau quebrou antes.